15 março 2014

um catraio anda com o mundo nas palminhas

Um texto de Wladimir Kaminer:



O meu país, a União Soviética, era não apenas uma ditadura totalitária mas também uma união voluntária de muitos povos, que deviam coexistir de forma pacífica e solidária. O rapazinho gostava disso. Só não sabia até que ponto essa aliança era autêntica. Em 1991, a aliança desfez-se. “Não perdem pela demora, traidores!”, pensou o rapazinho, que entretanto crescera e se tornara presidente. “Ou voltamos a ficar amigos, ou verão com quantos paus se faz uma cangalha. Vamos começar pela Crimeia.” Na realidade, conseguiu que todos se zangassem. Parentes, amigos, colegas de trabalho. Operários e camponeses, pensadores e poetas, o mundo inteiro. Algumas barricadas surgiram no meio das cozinhas, o homem a favor, a mulher contra. Uma parte da sociedade sente vergonha, outra rebenta de orgulho e, com tanto patriotismo, mal consegue andar. A maioria acha bem, o país vai ficar maior, a Crimeia é nossa. O referendo de domingo é à prova de bala, nove em cada dez balas vão ser a favor, calculo eu.  


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