17 janeiro 2014

breaking news: Sir Simon Rattle pede desculpa à autora deste blogue

(Hehehehe, ando a aprender com o Correio da Manhã a torcer os factos para escrever títulos bombásticos, hehehehe, este não me saiu nada mal. Em termos de mediocridade e desonestidade, estou em crer que é um título muito bem conseguido. Será que me arranjam um tachinho naquele pasquim?)



Na segunda-feira passada fui à Kammermusiksaal ouvir a Magdalena Kožená, que cantava árias de Haydn e Mozart, acompanhada pela orquestra canadiana Les Violons du Roy e o seu maestro Bernard Labadie. Levei um casal de estudantes portugueses, de visita por estes dias, e enchi-me de inveja ao ver que recebiam bilhetes para o bloco A a preço de jovem - oito euros! Encontrei a minha amiga A, chamemos-lhe assim, que também estava de visita a Berlim, e a minha amiga B, que é mais ou menos da casa, a quem tinham dado um bilhete de luxo. Também lá estava outra amiga portuguesa, e um outro, com o companheiro, e os meus vizinhos amorosos do segundo andar. Este mundo está cada vez mais pequeno.
Juntando aos inúmeros cabides que via vazios os bilhetes de estudantes no bloco A, decidi que a sala não ia estar esgotada. Convenci a minha amiga A a esquecer o seu bilhete que era, tal como o meu, comprado à justa medida das nossas possibilidades (bloco F, a meio quilómetro do palco), e a tentar ocupar lugares vazios no bloco A. Ela ainda me avisou: olha que talvez seja demasiado cedo para tomar estas decisões, ainda vai chegar muita gente. Mas eu, ai e tal, há sempre lugares vazios, etc., fui logo andando para o meio da sala.

Ora bem, nota mental: Heleninha, tu, quando vires um lugar muito, mas mesmo muito bom, no bloco A, tu desconfia, moça!

É que havia três lugares maravilhosos na sexta fila, nós sentamo-nos, a sala foi enchendo, enchendo, e quando o concerto estava quase a começar entrou o Simon Rattle com um dos filhinhos, e vieram na nossa direcção, tão decididos que parecia coisa do destino. Eu levantei-me à rasca (onde estão os famosos buracos onde a gente se pode enfiar, nestas situações? quando são mais precisos, eclipsam-se!), e o Simon Rattle fez aquele seu sorriso tímido e pediu-nos desculpa.

Fugimos o mais disfarçadamente que pudemos para outro lugar, e o concerto começou.

(Será que posso meter um momento Caras num post com um título Correio da Manhã? Às tantas posso, porque afinal de contas já vi um jornal sério a fazer comentários sobre o trajo de banho da presidente do Parlamento, e outro - ou seria o mesmo? - a comentar a cor das unhas da espanhola Letícia)

Portanto, momento Caras: os músicos instalaram-se, a Magdalena Kožená entrou. Estranhei os sapatos, porque eram de cunha, elegantes mas sobretudo confortáveis. Da última vez que a vira naquela sala, tinha cantado Das Lied von der Erde em cima de uns saltos vertiginosos. Também a vi a actuar na Paixão segundo São Mateus, mas era a encenação do Peter Sellars, estavam todos descalços, não contou. Foi então que comecei a apreciar o vestido, e vi: está grávida. Vai nascer mais um Rattlezinho daqui a uns meses!

No meio dos aplausos, a minha amiga A apontou-me lugares vazios na primeira fila, mesmo junto ao palco. Ufff! Eu estava um bocado atrapalhada com a cena triste em que a tinha envolvido, mas ela é ainda mais maluca que eu. Tão bom!
De modo que no intervalo desistimos da cervejinha e da Bretzel, e alapámos nos lugares da frente. Claro que os meus vizinhos queridos do segundo andar tinham de passar por nós, e tinham de contar o que se riram ao ver a cena com o Simon Rattle. Mas tudo está bem quando acaba bem: na segunda parte do concerto a Magdalena Kožená estava mesmo à nossa frente, o vestido muito elegante oferecia-se em mil detalhes, a voz também.

Um concerto muito bom. Os Violons du Roy apresentavam-se pela primeira vez na Filarmonia, e algo me diz que vão voltar. Enfim, pensando bem, não posso dizer nada, porque só vi a Pascale Giguère, primeiro violino. O Labadie que me perdoe, mas desta vez até me esqueci de olhar para o maestro. E mal reparei nos outros músicos. Só havia aquela violinista impressionante, cheia de nervo e graça. E a voz da Kožená, e o primeiro sorriso que fazia no fim de cada peça, o mais doce: para o marido e o filho, sentados na sexta fila.

No fim do concerto juntou-se um grupinho de portugueses, e aprendi a diferença entre Bola de Ouro e Bota de Ouro (para que conste que na Filarmonia se aprende sempre muito).
Depois fomos beber uma cervejinha em homenagem da Bola de Ouro (ou seria a Bota? oh, não, lá terei de voltar à Filarmonia para aprender isso bem) do Cristiano Ronaldo.

(Chegada aqui, apercebo-me do disparate: então eu mando o brio para as ruas da amargura e ponho-me a fazer títulos palermas e notícias parvas para aumentar o tráfego no blogue, mas esqueço-me de fazer um contrato prévio de publicidade com o Millennium BCP? Está visto: ainda tenho de aprender muito antes de me tornar num fenómeno de sucesso desse submundo do jornalismo português...)









Mais um momento Caras: adorei a sinfonia do Haydn, "La Reine". Já tenho uma coisa em comum com a Maria Antonieta. E isso me basta - não é preciso que alguém se lembre de me encurtar 25 cm a contar de cima (não me dava jeito).

E um momento sério, para não se perder o post todo: o arranjo instrumental que Les Violons du Roy tocaram para o Arianna a Naxos foi o de um autor desconhecido, encontrado no espólio musical da família Martorell da Biblioteca do Congresso em Washington. O programa dizia que é muito mais rico que o simples arranjo com base na partitura do piano. Gostei muito (pelo menos da parte tocada pela Pascale Giguère) mas não sei dizer se o acompanhamento nestes vídeos é o da família Martorell ou o mais commumente usado, a partir do piano.


ADENDA (pequena atenção do meu telemóvel jurássico)





1. estudantes portugueses
2. amiga B
3. vizinhos simpáticos
4. Simon Rattle
5. lugares vazios na primeira fila

9 comentários:

Carla R. disse...

Ahahahahaha ! Quero tanto passar vergonhas contigo na Filarmonica !

Helena Araújo disse...

Oh, se fosse contigo eu passava a vergonha sozinha. O Simon Rattle olhava para ti e dizia "ó minha senhora, por quem é, deixe-se ficar. Tenho todo o gosto em tê-la aqui ao meu lado, olhe, o meu miúdo até gosta tanto de se sentar ao meu colo e tudo".
E lá ia eu com o rabinho entre as pernas rumo ao balcão mais remoto.
;-)

(anda! anda! hei-de arranjar uma vergonha inesquecível para passarmos juntas)

Carla R. disse...

N'importe quoi ! :)

Vi esta semana um dos primeiros filmes do Wes Anderson, o Rushmore, foi tão desconcertante, de cada vez que aparecia a Olivia Williams parecia que eras tu. Conheces esta tua sosia ?

Paulo disse...

Diz-se por aí que temos excedentes de arroz carolino para exportar, que não o consumimos todo por causa do basmati e do agulha. Talvez consigas um bom contrato.

De resto, um grande título!

Anónimo disse...

Ao menos nao tinha um resto de alface entre os dentes. :)

Bela historia!

Paulo disse...

Ah, e parabéns à família Kožená-Rattle.

calita disse...

Ah,é mesmo, Carla, a Olivia Williams é a sósia da Helena!

mdsol disse...

Delícia, delícia, delícia. Obrigada Helena.
:)

Helena Araújo disse...

Calita, Carla - a Olivia Williams?!
Vocês são uns amores!
(será que com uma cervejita ou duas a mais me promovem para Binoche?)

mdsol, ora essa, obrigada eu!

Paulo, eu nem jeito tenho para arranjar uma pequena avença do Millennium, quanto mais vender arroz carolino seja lá a quem for! ;)

Txtículos, obrigada.