22 dezembro 2013

"parabéns atrasados à KGB, ao leme há 93 anos"

A propósito desta notícia sobre a exagerada diabolização de Salazar, resolvi oferecer um pequeno presente de Natal aos leitores deste blogue (o Speedy Gonzalez manda cumprimentos e votos de boas festas)





Parabéns atrasados à KGB, ao leme há 93 anos

Wladimir Kaminer

O nome oficial do dia 20 de Dezembro, na Rússia, é: "Dia dos Funcionários da Segurança do Estado da Federação Russa". Foi neste dia, em 1917, que o então comissário Félix Dserschinski, também conhecido por "Félix de Ferro", criou uma comissão extraordinária para todas as Rússias, com o objectivo de reforçar a segurança interna do Estado socialista, recentemente criado. Este Estado ousou uma experiência social de grande alcance, o primeiro estaleiro da nova ordem mundial socialista. A agitação e a propaganda não eram suficientes para conseguir convencer milhões a trabalhar nesta obra em troca de um par de promessas. Pelo que, em vez do ministério da Cultura, foi a Segurança do Estado que conquistou o papel mais relevante no país. Mais tarde, trabalhariam amigavelmente em conjunto. Bem vistas as coisas, os ministérios da União Soviética tornaram-se todos filiais da Segurança do Estado - com a qual praticamente todos os cidadãos, mais cedo ou mais tarde, entrariam em contacto. A tarefa da Segurança do Estado era disciplinar os cidadãos e organizá-los para os projectos colectivos. Mais tarde, nos anos oitenta, a Segurança do Estado adquiriu algumas boas maneiras, e quis trabalhar mais estreitamente com o sector cultural. O escritor Dowlatow descreveu como uma vez um oficial o tentou convencer a visitar a sede do ministério. "Venha", dizia o oficial, "até temos um museu!" Dowlatow renunciou gentilmente, mas durante muito tempo ficou a perguntar-se quais seriam os objectos expostos neste museu. As unhas do Bucharin?, interrogava-se ele, com perplexidade. A picareta da cabeça do Trotski?
Após o colapso da União Soviética, retiraram o monumento a Dserschinski da praça Lubanka, uma importante praça em Moscovo, e a culpa dos erros do passado foi depositada por inteiro sobre os ombros de Estaline. Ele respondia sozinho pela morte de milhões. Os outros tinham-se limitado a cumprir o seu dever, e a Segurança do Estado só os cobria. Hoje em dia, com o país dirigido pela Segurança do Estado, até o Estaline está a ser reabilitado. Nem tudo era mau nele, e afinal de contas a guerra foi ganha sob o seu comando, o país foi reconstruído a partir das ruínas e ele cuidou da segurança (do Estado). Para festejar o seu aniversário, a loja on-line da prisão e da central da Segurança do Estado - www.lubanka.ru - oferece presentes a condizer com a ocasião: t-shirts com um cavaleiro que mata um dragão, o busto de Félix Dserschinski com a frase "nós lembramos" ou "nós orgulhamo-nos", bem como a toalha de mesa "vencemos". Também há isqueiros com o símbolo daquele organismo, lenços bordados com imagens dos antigos chefes da Segurança, talheres de cozinha e garrafas de vodca em forma de pistolas, que podem ser metidos em coldres de pele. Armas que fariam James Bond morrer de inveja. Também é possível baixar deste site o hino da Segurança do Estado: Ainda há muito para fazer, colegas,  Neste combate de vida ou morte  Mantende a vossa dignidade  e disparai - mas só se for preciso!
De resto, a internet russa é o único media livre em todo o país - e está cheia de imprecações contra a efeméride. Os que mais protestam são os mais velhos. "Vão para o diabo! Vocês sugaram o sangue da nossa terra, gota após gota, e agora querem levar também o que resta do petróleo."            


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