13 novembro 2013

os meus problemas




Problema nº1:

Fez na semana passada 24 anos que vim morar para a Alemanha. Há tanto tempo a viver longe de Portugal, o mar ganha uma dimensão mítica na minha saudade. O mar - mais ainda que o sol, os rissóis e os pastéis de Belém.
Assim sendo, não é de estranhar que, ao descobrir a Rachel's Wave do Matthew Cusik, tenha ficado pespegada à montra, a babar. É uma colagem com bocados do mapa-múndi, cujas reproduções, à venda nas galerias de arte, insistem em atravessar-se no meu caminho, parece pirraça.
Calha bem de estar para fazer cinquenta anos - cinquenta anos é quase como aquele "pode-me guardar este casaco de peles até o meu marido me fazer uma ofensa imperdoável?", e pedi. Mas o pessoal cá de casa achou que tudo o que for menos de um original a óleo é coisa de fancaria. No way. Têm alguma razão, mas olho para esta colagem, que traz em cada cor um bocadinho diferente do mundo (cliquem na imagem para ver os detalhes), e dá-me vontade de chegar depressinha aos oitenta, para poder passar a culpa das decisões impulsivas e irracionais para a nessa altura já muito aceitável senilidade.
Até lá, plano B: tenho esta onda como fundo do ecrã de computador, e estou aqui toda satisfeita a lembrar nela as ondas do Verão passado.  

Problema nº2:

Tenho andado a preparar uma visita guiada à Filarmonia (que ainda agora fez cinquenta anos, uma jovenzinha de luxo) para os amigos que vêm de outras cidades: depois do brunch de domingo, ala que se faz tarde, com sorte apanharíamos até um bocadinho dos ensaios. Mas depois ocorreu-me que os amigos vão preferir ver a casa que estamos a construir, e que esta semana chegou ao último andar. Já os imagino empoleirados no terraço do topo, a largar comentários e piadas, a escolher o quarto onde vão dormir, e a sonhar connosco momentos felizes naquele lugar.
Parece-me que a Filarmonia vai ter de esperar até ao 60º aniversário.

Resumindo, é isto: ainda nem cheguei aos cinquenta, e já sonho com os próximos aniversários "importantes". É assim que uma pessoa se põe velha...

7 comentários:

Cristina Torrão disse...

O mar, Helena, sem dúvida. Custou-me muito viver sem o mar, nos meus primeiros anos na Alemanha (estou aqui há vinte e um). É mesmo como tu dizes: sente-se mais falta do mar do que do sol, dos pastéis de nata, dos rissóis e até do bacalhau. Eu nem sou grande aficionada do bacalhau. Conheci um inglês, casado com uma portuguesa, que me disse: tu és a única pessoa portuguesa que conheço que não transporta bacalhau na bagagem ;)

Por acaso, até estou perto do Mar do Norte. No meu primeiro ano de Alemanha, o meu marido levou-me a Cuxhaven, quando eu já não aguentava com saudades do mar. Chegados à praia, não vi mar nenhum. Era maré baixa. E a alta ainda demorava umas horitas. Regressei a casa muito desconsolada...

Entretanto, já vi o Mar do Norte várias vezes, mas não se compara ao nosso Atlântico. O sol, tenho-o, às vezes (hoje, por exemplo, está um dia lindíssimo). Mas o mar...

Helena Araújo disse...

Que azar, Cristina: ir ver o mar e ele não estar lá! :)
E é isso mesmo - na Alemanha não há mar como o nosso. O Báltico, então, não passa de um lago um bocadinho maior.

Anónimo disse...

À uns anos quando fui trabalhar para o Cairo e dei por mim a 200kms do mar tive essa mesma sensação, fui várias vezes ao Mar Vermelho e ao Mediterrâneo, ainda assim demasiado pacatos para aliviar a saudade. Agora em Paris de novo o mesmo vazio, já fui à Normandia mas não afaga as memórias.

Somos mesmo atlantes.

Gi disse...

Acho que sentiria também essa falta. Já tenho pensado ir morar ao pé de um lago, porque gosto imenso de lagos, dão-me serenidade, mas o mar! É outra coisa.

Carla R. disse...

Pois é, o mar, o mar... Mas ao final de 5 anitos ja sentia "apenas" falta das pessoas.
Hoje, é passaram apenas 10 anos ja vou a Lisboa e nem sequer me lembro d Guincho ou da Costa da Caparica.
Dica para quem quem mora em Paris : um mar digno de apreciação de nativos lusos é o da costa selvagem de Quiberon, na Bretanha.

Helena Araújo disse...

Com tantos ecos de "o mar, o mar", isto já parece um blogue português! ;-)

Quando estou em Portugal não vou passar os meus dias todos na praia. Também não o fazia quando vivia em Portugal. Mas saber que o mar está lá perto ajuda muito.

Contudo, quando fomos morar para San Francisco, saindo das profundezas continentais de Karlsruhe, todos os dias depois da escola descia até Ocean Beach, só para matar saudades das ondas.

Sandra disse...

Sem querer rir dos problemas dos outros não resisti a rir destes teus. Quem sabe por ser da tal saudade comum nos emigrantes. Como escreves no comentário em cima, comigo passa-se o mesmo, quando estou em Portugal não preciso (nem ía) todos os dias à praia mas saber que o mar está lá é tão bom. Beijinhos