05 outubro 2013

"se eu quisesse visitar os meus impostos, ia a Frankfurt am Main"

A propósito da montra de uma agência de viagens em Karlsruhe, onde estava escrito "vá visitar os seus impostos - Itália, Espanha, Irlanda, Portugal, Grécia" (de que falei no post anterior), tenho andado à procura de reacções na Alemanha. Encontrei um debate no Google+ com as palermices do costume e também um número felizmente alto de pessoas que tentaram debater com seriedade e sentido de justiça. Uma delas resumia, lapidarmente:
"Se eu quisesse visitar os meus impostos, ia a Frankfurt am Main."

Entre os comentadores alemães encontrei alguns comentários tipo Bild ("é isso mesmo!", "assim é que é!", "no fim os lorpas dos alemães é que pagam"), outros que criticam liminarmente o cartaz e este tipo de polémicas baratas e contraproducentes, porque espalham mentiras que destroem a Europa, um que conclui que a agência de viagens só pode ser gerida por leitores do Bild, outro que responde que não basta classificar as pessoas em categorias tipo "leitor do Bild", e que para mudar alguma coisa é preciso "trazer os leitores do Bild para o nosso barco", informando-os e dando-lhes a conhecer as partes do puzzle que os políticos não estão a querer revelar: que estão a aplicar o dinheiro dos contribuintes alemães no salvamento dos bancos estrangeiros que devem dinheiro aos bancos alemães.
Um dos melhores comentários: "Pergunto-me seriamente se os alemães se dão conta de que os milhares de milhões são distribuídos entre os bancos e as "elites", em vez de ir para esses países. Este bashing da Europa do Sul é estúpido e perigoso. Parece haver realmente um interesse em lançar os europeus uns contra os outros, e nós estamos a cair como uns patinhos. É assustador pensar no que está a acontecer neste momento." 

No mesmo debate referiram um documentário de Harald Schumann, jornalista de investigação num diário berlinense, de Fevereiro de 2013: "Segredo de Estado - o Salvamento dos Bancos"

Em alemão:



Em francês:



São 52 minutos que valem bem a pena.

Comentário do site Deutsche Wirtschafts Nachrichten a este filme:

"Este documentário não traz grandes surpresas aos leitores habituais do Deutschen Wirtschafts Nachrichten. Contudo, recomenda-se ver o filme, porque mostra que quantidades enormes de dinheiro dos contribuintes foram simplesmente dirigidas para o sistema bancário. Para onde - ninguém sabe, nem quer saber.
(...)
O que não é dito no filme: é óbvio que os políticos passaram todo o tempo a dizer aos bancos que precisavam de dinheiro - cada vez mais dinheiro! - para cumprir as promessas eleitorais (de quatro em quatro anos) ou para financiar projectos políticos monstruosamente grandes (UE e Euro). Há algum exagero na atribuição unilateral da culpa aos bancos. Milhões de europeus receberam este dinheiro porque se entregaram gratamente à ilusão de que as dívidas são o melhor dos investimentos.
O filme também não conta que a política ficou sujeita a chantagem devido a estas práticas de endividamento. Se os bancos se recusarem a comprar títulos da dívida pública, e então o Bond Market se desmoronar, o jogo acaba. É esse o motivo principal para o salvamento dos bancos ser um segredo de Estado: os políticos teriam de reconhecer que andaram a atirar pela janela o dinheiro dos outros (dos contribuintes).
É isto que acabará por ser mostrado: os bancos receberam com gosto a bola que lhes atiraram. Lucro, tiveram todos - os Estados, os fundos de pensões, os pequenos proprietários de imobiliário. Este segredo de Estado sobre o salvamento dos bancos é necessário porque a política espera conseguir chegar às próximas eleições sem ter de dar más notícias aos reformados, que são em número cada vez maior.
O preço total deste jogo vai ser pago pela próxima geração - e no mundo inteiro. Mas, bem vistas as coisas, isto também já não é segredo para ninguém."


2 comentários:

mar disse...

Helena, há também com legendas em português, em http://www.youtube.com/watch?v=UwFolpgpksU

Helena Araújo disse...

Obrigada!
Vou já fazer um post sobre isso.