25 outubro 2013

mudam as moscas, mas a mentalidade é a mesma

I.


Em Gelsenkirchen, os nazis obrigam J. Rosenberg e a sua companheira a desfilar pelas ruas, com cartazes onde se lê:
Ele: "Ich bin ein Rassenschänder" - com o nome, "judeu J. Rosenberg", e a morada.
Traduzido, seria algo como: "Eu sou um conspurcador da raça" 
(como traduzir "Rassenschänder"? Aquele que viola e desonra a raça - a boa raça alheia, entenda-se. Pedigree e rafeiros, graus de mistura racial: nas iluminadas cabeças dos nazis, os humanos dividiam-se nessas categorias, como os cães.) 

Ela: "Ich blonder Engel schlief bei diesem Judenbengel" - também com o nome e a morada.
"Eu, anjo loiro, dormi com um canalha judeu".


II.


Robert Capa (fonte
FRANCE. Chartres. August 18th, 1944. French woman, who had had a baby by a Germany soldier, being marched home after being punished by having her head shaved


III.

Do diário de Ruth Andreas-Friedrich, em Berlim:

Sábado, 6 de Maio de 1945

"Eles conspurcam as nossas filhas, violam as nossas mulheres", acusam os homens. "Não apenas uma vez, nem seis vezes, nem dez, nem vinte." Não há outro tema na cidade. Nem se pensa noutra coisa. No ar pairam ideias de suicídio. Escondem as raparigas nas traves do telhado, enterram-nas em montes de carvão, embrulham-nas em panos como velhas. Quase nenhuma dorme onde costumava dormir. "Foi-se a honra, foi-se tudo", diz um pai, de cabeça perdida, e põe uma corda na mão da sua filha violada por doze homens. Obediente, ela vai-se enforcar numa janela. "Se vos conspurcarem, só vos resta a morte", explica uma professora à sua turma de jovens alunas, dois dias antes de ter uma crise de nervos. Mais de metade das raparigas assume as consequências, e afoga a sua vergonha no rio ou lago mais próximo. Honra perdida, tudo perdido. Veneno ou bala, corda ou faca. Suicidam-se às centenas." 

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