11 outubro 2013

dia bom

Em Setembro fui a Lisboa, para uma reunião. Correu bem, yeessse!, e fui espalhar a alegria para a colecção Calouste Gulbenkian, que uma pessoa gosta de se rodear de bons amigos quando está feliz. Por incrível que pareça, quando chego aos impressionistas acontece sempre alguma coisa que me obriga a sair. Geralmente, fecha o museu. Mas desta vez era a V. (ando há dez anos à espera do momento para escrever isto: "a minha amiga inicial-ponto" - foi hoje!) a combinar um almoço comigo. 
O Rossio na Betesga na Calçada do Combro: enquanto esperávamos pelos outros convivas do almoço, fui com a V. experimentar fatos de banho na que parece ser a melhor loja de Lisboa para essas coisas. Não ponho o nome, porque não sei e além disso ainda iam desconfiar que estava a fazer publicidade encapotada. Mas nem precisam de publicidade: a loja é tão conhecida que já todas as outras portuguesas com um corpo de dimensões normais como o meu tinham passado lá antes. Nada feito - e ainda bem, porque poupei um dinheirão e não me custou nada dizer adeus àqueles biquínis para anoréxicas. Depois fomos almoçar comida deliciosa (porque é que ainda ninguém me tinha avisado que na Calçada do Combro há restaurantes assim?) e depois eles foram trabalhar e eu, que já tinha produzido a produtividade toda logo pela manhã, aproveitei para ir espreitar o Convento dos Cardaes. Uma amiga minha passa a vida a dizer que aquele convento é o non plus ultra da cidade, e eu fui verificar. Com a sorte que tenho, ela por acaso nesse dia estava lá. Passámos a tarde a conversar, a pôr balões nas figuras da arte sacra, e a maravilhar-nos em conjunto.
Há lá coisa melhor do que ter alguém com quem se maravilhar?

(As fotografias são fraquinhas - foram feitas com um telemóvel do Jurássico. Mas o Convento dos Cardaes merece mesmo uma longa visita.)





Já se sabe que um convento é um convento é um convento, mas eu não ia preparada para tanta tranquilidade no coração de Lisboa.







As freiras recebiam a comunhão por esta porta dupla, que separa a igreja da área de cativeiro. Ai, parece-me que não se chama cativeiro. Recolhimento? Vou ter de voltar lá, e perguntar. E apreciar de novo aquela profusão de anjinhos no pedestal da Virgem. Ou este aqui em baixo, a ajudar Jesus a dar os primeiros passos sem o andarilho. Só para apreciar o seu ar aflito já vale bem a pena visitar o convento.




O São José a trabalhar enquanto ouve música servida por um i-pod da época
(quem não tem gato, caça com cão...)



Pilatos: E eu que só cá vim para ver a bola...
Jesus: Por uns momentos pareceu-me que ainda ia conseguir uma solução de compromisso com o meu Pai, mas pelos vistos isto está a correr mal.
Soldado: Decidam-se mazé, que estou a ver que nem este morre nem a gente almoça.







Um São José emancipado - cena de uma surpreendente modernidade.



"Nossa Senhora acabada de sair do cabeleireiro."



O que separa o mundo do espaço reservado do convento?
- Chinoiseries. Chinesices:



Santa Ana (balão com bolinhas, porque só está a pensar ): Esta miúda lê tão devagar que ainda se arrisca a passar mais de um milénio a ser representada na pintura com um livro a cair-lhe da mão.
Maria (balão também com bolinhas) : Se virasses o livro na minha direcção é que eras esperta, mãe.



- Ó pai, achas que o Benfica tem hipótese de ganhar o campeonato?
- Nem que fosses tu o treinador, meu filho!



A Boa Morte. A ver se quando for a minha vez me lembro de compor aquela cara. Nem é bem por mim, é por quem cá fica: é reconfortante.




Guardar tudo numa imagem: a beleza do local, o sol, a amizade.
E sair para a rua: Setembro em Lisboa.





6 comentários:

lb disse...

Mesmo muito bonito! Vou dizer a Margarida para ver o post. E um dia havemos de la ir.

Helena Araújo disse...

Já sabem: tentem ir num dia em que a minha amiga lá está. Ela é mesmo muito engraçada.

Helena Araújo disse...

(Num dia de sol também é boa ideia, mas isso não deve ser problema - pelo andar da carruagem, este ano o Verão vai até ao Natal, ou mais longe ainda...)

Paulo disse...

A Conceição dos Cardaes é uma aldeiazinha no meio da cidade. Vivi lá perto durante uns três anos e gostava muito de passar por aquele sossego. E os tesouros que encerra...

Também gosto muito da cena do menino Jesus a aprender a andar. É uma delícia.

Helena Araújo disse...

Paulo, aposto que sei onde moravas quando moravas lá perto. Passámos por lá no dia em que demos um passeio enorme por Lisboa, lembras-te?

Vi algumas pessoas a falar com as mulheres portadoras de deficiência (é assim que se diz?) que lá vivem. O modo como essas mulheres são tratadas deve ser - entre tantos, e tão belos - o maior tesouro que os Cardaes encerram.

Paulo disse...

Lembro-me perfeitamente.

Há muito tempo que não vou aos Cardaes. Um dia destes hei-de lá voltar.