23 setembro 2013

musica callada, Federico Mompou




Excerto de uma entrevista com o pianista Arcadi Volodos, na revista Concerti, Maio 2013:


C: Os trabalhos de Mompou são tudo menos uma cedência ao público. Escreveu esta música apenas para si, não queria ser ouvido. Como é isso possível?

AV: Ao chegar ao fim da vida, os grandes compositores procuram o som da eternidade - veja o exemplo de Bach e a Arte da Fuga. No caso de Mompou, juntou-se ainda a mística de São João da Cruz (1542-1591), que o fascinava.

C: Federico Mompou também dizia: "eu não sou compositor... mas música."

AV: Sim. E completava: "Não componho, decomponho."

C: Como pode descrever a Musica Callada, que interpreta neste CD?

AV: Tem um espírito oriental. Não no que diz respeito à harmonia, mas sim à estrutura. Tem analogias com Ravel, Debussy, Skrjabin, com o impressionismo francês. Mas o espírito é oriental. É uma música que não tem dualidade entre som e silêncio, não tem contrastes. É pouco acessível. Não se sabe onde começa o silêncio e acaba o som, é uma música muito minimalista, que se limita ao essencial. Na medida em que põe de lado tudo o que é acessório.

C: A definição de verdadeira arte.

AV: Sim, é assim que a vejo. Musica Callada é a música que exigiu toda uma vida a Mompou, quatro cadernos com vinte e oito peças. A perfeição da sua arte. A propósito, já que falávamos há pouco de júris - Mompou foi membro do júri de um concurso de compositores. Dava a todos os compositores a mesma nota. Perguntaram-lhe porque o fazia, e a sua resposta foi "Porque havia eu de excluir alguns candidatos? A vida já o fará." Era essa a sua filosofia.

1 comentário:

jose disse...

Não sei se é oriental...mas realmente lembra-me logo alguns Préludes de Débussy.