04 setembro 2013

desconversar

Ainda a propósito do "piropo", a Rita Dantas escreveu um texto excelente, no qual desmonta os argumentos usados para fugir ao debate sobre a questão essencial.

O mais importante está lá dito, e muito certeiramente.
Só queria acrescentar o seguinte:

- Porquê esta necessidade de desconversar? O que é que levou as pessoas (e em especial as mulheres e os homens com alguma educação) a ridicularizar a iniciativa, em vez de aceitarem o convite para o debate (ou ficarem calados)?

- Praticamente todos os piropos que li em listas como esta, anunciados como "poesia na rua", são pura indigência. Estão para a poesia como "A Casa dos Segredos" para "A Visita da Velha Senhora". Não percebo o receio que há de perder este elemento do folclore português.

- Pensava eu que o país é dirigido obscuramente pela Opus Dei e a Maçonaria, mas afinal também há um grupo de "feministas ressabiadas apostadas em dominar a sociedade e armar-se em guardiãs da moral e dos bons costumes"...
As teorias da conspiração são óptimas para desconversar, mas numa boa discussão de ideias os temas valem por si, independentemente do sujeito que os formula.

- Há muito mais entre o "acho que sim" e o "acho que não". Transcrevo um comentário que li no 5 dias: (...) Bastava lerem Bourdieu para perceber que existe mais linguagem útil para explicar o fenómeno óbvio e latente do “assédio sexual verbal”. É que uma coisa são as vossas opiniões e infinitas nuances e divagações acerca do que é ou não piropo, outra são os estudos feitos por sociológos e antropólogos. Sugiro então que comecem por aqui a estudar o assunto (Pierre Bourdieu, A dominação masculinaA este livro podia depois juntar-se o "Um é o Outro", da Badinter. Só para começar.

- Ah, e caso se tenham esquecido, o que estava em causa era isto:


(foto)



3 comentários:

maria n. disse...

Uma das desconversas de estimação é a teoria da conspiração segundo a qual existe uma entidade que dá pelo nome de "politicamente correcto" que manda nisto tudo. Oprime-nos e limita a nossa liberdade, isto apesar de ser constantemente denunciada, criticada, ridicularizada e rejeitada. Na verdade, como se viu, a única posição politicamente correcta é tratar uma mera proposta de debate de um partido político como uma imposição de proporções apocalípticas.

Sobre a necessidade de ridicularizar: não é um debate qualquer. É sobre uma instituição machista numa sociedade que julga já ter ultrapassado isso tudo ("machista, eu?!"). Qualquer denúncia é incómoda e é muito menos tolerada do que o próprio machismo. Desconversa-se, ridiculariza-se, minimiza-se. Nada de novo.

Obrigada pelo texto texto “O nome das coisas”. Alertou muita gente para o problema de fundo e isso já é um avanço.

Boa sugestão de leitura :-)

Helena Araújo disse...

De nada, de nada! :)

angela disse...

Aqui está porque gosto tanto de a ler (e por isso gostei do fim das férias, sou mesmo egoista :)