10 maio 2013

IKB 49






Ontem andei por aí a passear com um grupo de empresários franceses que trouxeram a sua própria especialista em arte moderna e contemporânea para lhes abrir os olhos na Neue Nationalgalerie. Ela é uma guia excepcional, tanto que eu estava capaz de pagar para a ouvir. Mas tenho sorte: quando ela vem a Berlim convida-me para fazer parte do grupo, e além de não me fazerem pagar, ainda me levam com eles para os excelentes restaurantes que frequentam.

Ontem, ela dividiu-nos em quatro pequenos grupos, para deixar cada um em frente a um quadro. O primeiro ficou num Picasso, o segundo num Warhol, o terceiro já gemeu bastante por lhe ter calhado um Rothko em vários vermelhos, e o último grupo, o meu, continuou a avançar com a guia em direcção ao seu destino. Quando começou a ser evidente o que nos calharia, eles desataram a implorar com vozes apavoradas: "Pas le bleu! Paaas le bleeeeuuuu!"
Ela foi implacável. Deixou-nos em frente a um quadro de Yves Klein, semelhante a esse aí em cima, e ordem para responder às seguintes perguntas:
- qual é o tema deste quadro?
- qual é o seu tom? (cínico, irónico, divertido, crítico, positivo, negativo, etc.)
- a que público se destina?

Hoje há mais, no Hamburger Bahnhof, o museu de arte contemporânea. Mal posso esperar.

***

- E então, Heleninha, qual é a resposta a essas perguntas?
- Ora, ora, deixem-me cá. Quer-me parecer que preciso de mais quatro ou cinco visitas guiadas ao mesmo quadro para começar a entender o seu profundo significado.

11 comentários:

Pedro disse...

Mas na Máxima até foi uma cor que lhe caiu bem ;)

Helena Araújo disse...

A cor é uma maravilha!
Infelizmente o quadro está atrás de uma placa de plexiglas que não deixa ver tão bem.

Penso que nunca mais vou passar em frente àquele quadro sem me rir por dentro, lembrando o tom dos franceses "pas le bleu! paaaas le bleeeeuuuu!"
hehehe

jj.amarante disse...

No sistema de Cores RGB, Red, Blue, Green, usado para dispositivos luminosos como os monitores de computadores, cada uma das cores vai de 0 (ausência absoluta dessa componente) a um máximo de 255, sempre assumindo valores inteiros. Desta forma cada uma das 3 cores é definível com 8 bits, unidade de informação que os anglo-saxões chamam byte e os franceses "octet".

Na versão do MOMA para esse quadro (http://www.moma.org/collection/object.php?object_id=80103) constatei que o vermelho está ausente, o verde and à volta dos trinta e pouco e o azul nos 150. Não será assim um azul puro. Já na sua versão o vermelho anda pelos 10, o verde pelos 45 e o azul pelos 165, é ainda menos monocromático.

O meu quadro azul (http://imagenscomtexto.blogspot.pt/2009/09/ceu-azul.html) é muito mais rico em vermelhos que andam entre os 40 e os 50, em verdes, que vão dos 65 a 90 e com azuis também fortes, entre 135 e 160.

E o Wallpaper do desktop do meu PC é homogéneo com: R:58, G:110, B:165, azul bastante parecido ao do céu do Algarve em certos dias a certas horas.

O Azul monocromático faz-me pensar no céu azul, no azul ultramarino dos guaches da Pelikan, que eram de muito melhor qualidade do que os guaches cisne mais económicos que eu usava no liceu e na dificuldade em pintar uma folha inteira de papel Almaço com uma cor homogénea. Talvez o pintor tenha querido vencer este tipo de dificuldade quando chegou a adulto. Ou então fazer as pessoas pensar em cores puras, contendo uma radiação electromagnética com pouca diversidade no domínio da frequência.

Faz pensar no conceito de obra de arte aberta, que se presta a várias interpretações e conjecturas, suscitando a participação do espectador. Eu, quando vi este quadro no MoMA, o que fiz foi tirar uma fotografia à minha mulher com o quadro em fundo. Ficou muito bem, género ouro sobre azul.

E nunca pensei que fosse possível escrever tanto sobre uma coisa tão simples.

Luís Novaes Tito disse...

Azul? Hoje?
Mau gosto. :)

jose disse...

O que eu e outros colegas,pobres,sofríamos ao ver esses guaches Pelikan,os nossos pais não podiam comprá-los(1960.s).Foi Cisne durante todo o liceu.Como poderei apreciar devidamente o azul Pelikan?
jose

maria disse...

"Eu, quando vi este quadro no MoMA, o que fiz foi tirar uma fotografia à minha mulher com o quadro em fundo. Ficou muito bem, género ouro sobre azul."

delicioso


e beijinhos, Helena

snowgaze disse...

Eu ia dizer "azul?!", mas depois li o comentario do jj.amarante, e achei lindo. Maravilhoso mesmo. :) Obrigada aos dois por me darem a ler coisas assim. :)

Rita Maria disse...

Eu só vinha aqui juntar-me à lista de pretendentes do senhor "ouro sobre azul", mas já vi que está concorrida, e com gente de qualidade....

Helena Araújo disse...

Luís Novais Tito,

"pas le bleu! pas le bleeeeuuuu!"

;-)

Helena Araújo disse...

José,
eu lembro-me bem do sentimento de culpa ao comprar o Pelikan, sabendo bem o que aquilo custava e o rombo que o começo das aulas dava no orçamento da família...

Helena Araújo disse...

Rita,
e eu não disse nada, mas também fiquei encantada.

O jj. amarante é o maior!