30 janeiro 2013

diversidade destruída




Faz hoje oitenta anos que o presidente von Hindenburg nomeou Adolf Hitler Reichskanzler dos alemães, depois de o partido deste ter conseguido 33,1 % nas eleições, e não ter havido entendimento por parte dos outros partidos para fazerem uma coligação alternativa.
O que se seguiu é do conhecimento público. Mas hoje li nos jornais alguns detalhes interessantes, que aqui transcrevo:

- Os eleitores estavam extremamente divididos, e cada vez mais extremados - os partidos moderados estavam a perder votos para o partido comunista e o nazi.
- O partido comunista dizia dos judeus que o seu capital estava misturado com o capital dos burgueses, e que era preciso aniquilar ambos. Comentário no jornal: "com um discurso destes, não admira que alguns eleitores optassem directamente pelo original".
- Hitler não se instalou no poder apenas por recurso ao Terror. Mal lhe foi entregue o governo, baixou o preço do acesso à saúde pública, aumentou os salários, criou emprego, reduziu a carga fiscal das famílias. Tudo isso por conta de um enorme endividamento do Estado. Uns meses depois de ter chegado ao poder, era considerado o benfeitor da nação. A ilusão sobre os seus valores era tão grande que algumas pessoas, vítimas da prepotência do sistema, se lamentavam: "se Hitler soubesse disto..."
- Foi o primeiro político a dar importância aos agricultores, o que lhe rendeu grandes juros.
- No princípio, a população reagiu mal à perseguição aos judeus - os alemães tinham uma noção bastante concreta do valor da pluralidade social, e da justiça. Em particular as classes trabalhadoras não viam a necessidade de perseguições desse tipo, e os católicos também não o viam com bons olhos. (Achei interessante terem dito católicos, não cristãos. Terá sido lapso? Será que os católicos fizeram mais barulho, deram mais nas vistas? Por que motivo não referiram aqui os protestantes?)
- Cinco anos mais tarde, a 9 de Novembro de 1938, seriam espectadores passivos do ataque organizado às sinagogas, empresas e casas dos judeus, e ao envio de milhares de pessoas para os campos de concentração.

Em 2013 lembra-se a Machtergreifung (há 80 anos) e a Reichskristallnacht (há 75). Ao longo deste ano haverá em Berlim cerca de 500 exposições e eventos dedicados ao tema "diversidade destruída".

Ora aí está: "diversidade destruída". Um grande tema, extremamente actual.

7 comentários:

jj.amarante disse...

O meu lado escorpião não resiste a explicar a sua dúvida "Achei interessante terem dito católicos, não cristãos. Terá sido lapso? Será que os católicos fizeram mais barulho, deram mais nas vistas? Por que motivo não referiram aqui os protestantes?": não é preciso referir os protestantes porque já se sabe que eles são muito bons e justos. Mas dessa vez, os católicos, com quem normalmente não se pode contar, portaram-se muito bem. Não me leve a sério...

Helena Araújo disse...

hehehe, engraçadinho... ;-)

Não tente essa piada com alemães. Ia ter um choque cultural. "Os protestantes são bons e justos" e "normalmente não se pode contar com os católicos" são frases que na Alemanha não fazem sentido nenhum.

O anti-semitismo do Martinho Lutero é bem conhecido. Até que ponto é que nas Igrejas protestantes do princípio do séc. XX estariam influenciadas por ele?
E até que ponto é que os católicos da mesma época já tinham começado a fazer um exercício de consciência em relação ao anti-semitismo histórico da sua Igreja?

Ou, olhando de outro modo: em 1933, até que ponto é que os judeus já não eram vistos como judeus, mas como "iguais" dentro da diversidade? E só mais tarde, após um bombardeamento de propaganda, é se renasceu o medo do "outro".

jj.amarante disse...

Vivendo e aprendendo, aqui de longe em Portugal tinha-me passado completamente ao lado esse anti-semitismo do Lutero.

Helena Araújo disse...

Curiosamente, comparei os artigos da wikipedia em alemão e em português: o anti-semitismo de Lutero está tratado na versão em português com mais detalhe e mais animosidade. Como se o autor desse texto tivesse algo contra os protestantes (ou, ao visto por outra perspectiva, como se o autor alemão quisesse salvar a honra dos protestantes).
Na wikipedia em português li coisas que não sabia e são chocantes. E um detalhe interessante: só nos anos 80 e 90 do século passado (só 40 ou 50 anos depois do Holocausto) é que as igrejas protestantes se demarcaram do anti-semitismo de Lutero. Mais ou menos na altura em que o papa João Paulo II pedia desculpa aos judeus pelos erros e crimes cometidos pela Igreja católica.

Daubi Piccoli disse...

E quando pediram perdão ao que fazem de terrível contra os homossexuais?

Dizem que 'jamais'!

Será?

Cometem sempre os mesmos erros e depois, 'pedem' 'perdão'.

Que deus 'bondoso' este, não é mesmo?

:(

Helena Araújo disse...

Daubi Piccoli,
Está a falar da Igreja Católica?
Não sei o suficiente para responder à sua pergunta.

Daubi Piccoli disse...

Desculpe: saiu 'pediram' ao invés de 'pedirão'.

:(