08 novembro 2012

notícia no Spiegel sobre a carta aberta de intelectuais e artistas portugueses

O Spiegel traz uma notícia sobre as manifestações da próxima segunda-feira e a carta aberta de alguns intelectuais e artistas portugueses. 
Como se não tivesse mais nada para fazer, traduzo num instantinho (num instantinho, OK? quer dizer: sem tempo para virar cada uma das palavras do avesso, para ter a certeza absoluta que corresponde inteiramente à intenção do autor. Portanto: se se irritarem com alguma coisa, perguntem-me a mim se não terá sido erro de tradução, antes de concluirem que os alemães são todos uns nazis...):

***

Carta para Merkel

"Persona non grata em Portugal" 



Protesto em Lisboa: anunciadas manifestações contra Merkel

Em Portugal, país que está a sofrer a crise do euro, cresce a resistência à visita anunciada da chanceler Merkel. Alguns dias antes da sua viagem, mais de cem intelectuais e artistas do país publicaram uma carta aberta na qual declaram que ela não é bem-vinda.

Lisboa - A visita que na próxima semana Angela Merkel fará a Portugal não ficará, provavelmente, entre as melhores recordações do seu mandato. A chanceler alemã vai ser recebida em Lisboa, na próxima segunda-feira. Vai-se encontrar com Pedro Passos Coelho, o primeiro-ministro do país que tem sido severamente atingido pela crise. Também está prevista uma reunião com o presidente da República, Aníbal Cavaco Silva. Além disso quer visitar uma fábrica da VW, perto da capital portuguesa.

Cinco dias antes da sua viagem, mais de cem intelectuais e artistas do país declararam-na "persona non grata". "Devido ao carácter da visita anunciada, e tendo em conta a catastrófica situação social e económica de Portugal, sublinhamos que não é aqui bem-vinda", diz-se na carta aberta a Merkel, que foi publicada na internet na quarta-feira passada.

A carta foi assinada por Alice Vieira, uma escritora de literatura infantil também conhecida na Alemanha, pelo realizador António Pedro Vasconcelos, e outras personalidades famosas. Descrevem Merkel como "principal promotora da doutrina neoliberal que está a arruinar a Europa". Estão a ser preparadas manifestações anti-Merkel para a próxima segunda-feira, quer pela CGTP, quer pela influente iniciativa no facebook "Que se lixe a troika (de onde vem o dinheiro)". Dois dias depois da visita, a CGTP organiza no país mais pobre da Europa ocidental uma greve geral contra a política de poupança do governo de centro-direita de Pedro Passos Coelho. Em 2011, o país em crise recebeu um pacote de ajuda de 78 mil milhões de euros da troika (fundos da UE, do BCE e do FMI). Em troca, pretende-se que até 2014 o défice baixe para o nível definido pela UE como limite máximo - 3% do PIB. Como consequência das medidas de poupança, o PIB português vai baixar pelo menos 3% em 2012, segundo estimativas governamentais; a taxa de desemprego já atingiu o valor record de 15,9%.

***

Com uma palavrinha apenas, sintetiza o que eu tentei explicar há meses, a propósito da má escolha do nome "que se lixe a troika". Escrevem "Zum Teufel mit der (Gelgeber-)Troika" = "Que se lixe a troika (de onde vem o dinheiro)". Não é preciso dizer mais nada. Um pequeno toque mordaz, e todo este movimento, que é legítimo e fundamental, é arrumado na gaveta errada.

4 comentários:

Izzie disse...

Gosto do nada tendencioso "política de poupança" e está ali taco-a-taco com o "pacote de ajuda". Não é ajuda, é empréstimo, que vamos pagar com juros bem mais generosos que aqueles que nos emprestam pagam a quem lhes empresta. Como diria Michael Corleone, it's just business.
E claro que não espero que os alemães não sejam tendenciosos, assim como espero que nos perdoem não sermos mais cabisbaixos (o que não significa que concorde com o nome do movimento, nem que me reveja nas cartinhas escritas)

Helena Araújo disse...

Izzie, se é assim, também gosto muito do "Angela Merkel, figura de proa do neoliberalismo"...
Em termos de linguagem e análise tendenciosa, penso que na crise do euro os portugueses ganham largamente aos alemães.

Repara no artigo: criticam o nome do movimento, mas informam correctamente. Dizem que as políticas de poupança terão como consequência um crescimento negativo de 3% ("segundo estimativas do governo", o que significa, para bom entendedor, que será mais) e que a taxa de desemprego já chegou a um valor record.

Foste tu quem falou em alemães a "perdoar" aos portugueses não serem mais cabisbaixos. Não conheço na Alemanha ninguém que pense nessas categorias. Perante informações como estas, é óbvio que compreendem que o país está numa situação terrível, e até podem ser levados a pensar que era boa ideia a Angela Merkel abrandar as suas exigências de rigor.
(Mas é verdade que as cartas insultuosas não ajudam muito ao entendimento entre os povos...)

Por falar em "exigências de rigor": tenho falado com pessoas de outros países europeus, e a ideia geral é: "ainda bem que há uma Merkel a fazer o trabalhinho desagradável de exigir rigor a certos países - é um trabalho necessário, mas que ninguém quer fazer."
(O mais incrível foi irlandeses a dizer isso mesmo: "ainda bem que a Merkel exige responsabilidades aos nossos políticos!")

Em suma: não pensem que a Merkel é o único inimigo dos portugueses. Ou o pior.

Conde de Oeiras e Mq de Pombal disse...



Acho imensa "piada" àqueles irresponsáveis que chumbaram o PEC 4, criando assim as condições objectivas (já para não falar das subjectivas) para que um bando de garotos imberbes, irresponsáveis e com alguns refinados patifes pelo meio se alcandorassem ao Poder em Portugal virem agora "sacudir a água do capote" da merda (perdão, mas eu tenho dois Filhos) que fizeram a este País - QUE NEM NUMA DÉCADA IRÁ RECUPERAR DESTA CATÁSTROFE! - e quererem morder na mão de quem lhes dá as sopas!


A Ângela Merkel que não dê "cavaco" nenhum a esta canalha e que procure, antes, saber quem poderá fazer parte do próximo Governo português - eui diria, quem será o nosso Mário Monti -, porque enquanto não se resolver este bloqueio nacional, ESTÁ A PERDER O SEU RICO TEMPO vindo a Portugal falar com os lunáticos incoscientes que nos desgovernam, ou ser enxovalhada por quem, julgando superior a tudo e a todos, NÃO FAZ NEM DEIXA FAZER!


Estou farto até à raiz dos cabelos tanto de uns, como dos outros e por isso já decidi não fazer greve geral. Não vou fazer "coro" com quem festejou o derrube do Governo de José Sócrates - que abriu as portas aos Relvas, Passos e Gaspares - e que, na realidade, só percebe mesmo é de "bota-abaixismo" e nada traz de construtivo para o Futuro do País que já é quase mais dos meus Filhos do que meu.

Helena Araújo disse...

Ó Conde!
Nem sei que te diga.