29 novembro 2012

deficiência nossa



Não tenho tempo para ver séries na tv, e se calhar nem preciso disso, porque esta vida virtual é muito mais divertida. Como por exemplo recentemente, quando a Pólo Norte escreveu "peço-vos encarecidamente: não me enviem postais foleiros pintados com a boca por tetraplégicos porque são feios como a merda e depois eu não tenho coragem para os mandar para o lixo e poluem-me a casa, ok???" e aquela esquina da blogosfera foi percorrida por um estremecimento de schock and awe muito melhor do que várias épocas de várias séries todas juntas. Ao ler a resposta da Pólo Norte às críticas, lembrei-me de um miúdo que conheço, da idade do meu filho que, entre vários problemas, tem deficiência mental, mas pinta e desenha muito bem - ganha todos os concursos para postais de Natal, cartazes para exposições infantis, etc. Ora bem: o rapaz descobriu há tempos a sua sexualidade, e toca de passar essas novas impressões para o papel. No postal de Natal da escola as mulheres pareciam vénus pré-históricas. No desenho para um concurso fez um belo dinossauro em plena ejaculação. É verdade que pintou o esperma de preto, mas está lá. Eu olho para aquelas obras de arte e rio-me cá por dentro. Não acredito que os outros não vejam, e pergunto-me porque é que dão o primeiro prémio a coisas tão expressionistas. Mas a verdade é que nem com os pais dele, meus amigos, me atrevo a falar disso. Deficiência minha, claro. A Pólo Norte explica muito bem.