29 agosto 2012

o Einstein e o Relvas

Parece que o governo (alto, isto escreve-se assim: o governo) (não, isto escreve-se assim: o feitor) vai começar a cuidar com mais atenção dos alunos com más notas. Não lhes dará explicações gratuitas na própria escola (sim, era o que mais faltava! ou pensam que já chegámos à Finlândia?) mas, partindo do princípio que as más notas são sinal de falta de vocação para estudar, vai direccioná-los para uma via mais técnica.
Ponho-me a pensar que faz sentido, claro, e que o Einstein teria dado um fantástico agricultor. Aposto que com aquelas suas teorias de espaço e tempo ainda se ia lembrar de pôr a hortinha num carro e ir passeá-la por aí, para conseguir ter os legumes maduros antes da concorrência.

Faz sentido, sim, mas acho mal e até anticonstitucional, por causa da igualdade de oportunidades: porque todos os portugueses devem ter o mesmo direito a receber um diploma do ensino secundário, para depois poderem fazer um curso superior à maneira do Relvas.

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Agora, a sério: no Banco Corrido, o Paulo Pedroso explica com clareza porque é que isto está muito errado e é muito grave. Leio, concordo, mas ocorre-me um suspiro de desânimo: num país onde o canudo é tão importante que para obter títulos académicos até se recorre a métodos, digamos, muito criativos, há ainda um longo caminho para andar até que as pessoas aceitem que o mais importante é cada um saber escolher a via de ensino mais adequada para si, e que é perfeitamente aceitável que o filho de um ministro/médico/advogado/etc. seja canalizador ou electricista, tal como é do máximo interesse da sociedade dar ao filho de um canalizador ou electricista a possibilidade de ele chegar a médico, se for essa a sua vocação. E não me venham com o argumento do sucesso e insucesso escolar como medida de alguma coisa, porque começo já a desbobinar histórias de pessoas que conheci péssimas alunas no secundário e em algum momento deram a volta a si próprias, fizeram o curso superior e são hoje excelentes profissionais.

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