20 agosto 2012

Carmen no Wannsee


Na quinta-feira passada fui à abertura da Carmen de Bizet nos Seefestspiele, junto ao Wannsee.
O relatório completo (enfim, mil palavritas dele) pode ser lido na Berlinda, de onde roubei esta fotografia.

No relatório não falei disso, mas conto aqui: o Westerwelle e o seu marido são lindos como tudo (vão lá ver à Berlinda, vão lá ver que não estou a mentir). Admito que ter tantas câmaras de fotógrafos viradas para eles os faça brilhar mais que de costume, mas não vamos entrar em pormenores: são lindos, pronto. Também gostei muito da naturalidade com que passaram e foram recebidos: um par, simplesmente, e não se fala mais nisso.





Aquelas estrelas e aquelas quem-me-dera-ser-estrela deram-me muito que pensar. Por exemplo, uma miúda com um nome artístico estranho e uma imagem muito bem composta. O seu acompanhante tinha um problema no pé e precisava de muletas. No fim do intervalo, vi-a passar por mim muito elegante na sua gabardina às bolinhas, subindo agilmente os vários lanços de escadas. Atrás dela, o rapaz esforçava-se para subir à mesma velocidade, fazia os degraus aos pares a uma velocidade espantosa. Confesso que não entendi: se eu estivesse com dificuldade de andar, não me sujeitava a saltitar de muletas centenas de metros e dezenas de degraus para ir a uma recepção para VIPs. Ficava sentada na minha cadeira, e pedia que me trouxessem o espumante e os rissóis (e alguns VIPs, se possível). Não há dúvida: não sei sofrer tudo o que a Arte exige, nunca hei-de chegar a estrela.


Também me chocou a cena do Malkovich a contar uma história qualquer ao Westerwelle, no meio de uma explosão de flashes. Ele já deve ter décadas de experiência nisso, eu é que não, e fiquei a olhar boquiaberta para todo aquele artifício. E depois dizem que é na internet que as relações são virtuais.

No meio de tanta confusão, o melhor momento foi o da entrada em cena do Artur Brauner, um director de produção quase centenário. O tom mudou inteiramente. Os fotógrafos chamavam-no em tom amistoso, quase com ternura. Vinha com uma mulher jovem, muito vistosa, e alguém perguntou “Artur, como se chama a tua acompanhante?”. Ele hesitou, alguém atrás de mim riu-se maldosamente, comentou: “não me digam que não sabe o nome dela!” - mas ela curvou-se, repetiu-lhe delicadamente a pergunta junto ao ouvido, e respondeu directamente que era sua nora. Uma jornalista foi conversar com ele, apertava-lhe a mão com carinho. O Artur Brauner: tem 94 anos, conseguiu escapar ao Holocausto fugindo para a União Soviética, depois da guerra criou em Berlim Ocidental os estúdios da sua CCC-Film, onde foram feitos mais de 500 filmes.



Já podia ter voltado para casa depois de o ver. Mas fiquei por ali, e valeu bem a pena. Aquela Carmen combina na perfeição com o lago Wannsee.


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As fotografias não têm a qualidade técnica do costume, porque a nossa máquina fotográfica anda com achaques e só pude recorrer ao telemóvel. Aliás: ao iPod do Matthias, que tem um estojo muito bonito, verde com macaquinhos. Para o Westerwelle, o Malkovich e todos os outros deve ter sido uma cena de gritos: do lado de lá da barreira do tapete vermelho, uma madura como eu a brandir macaquinhos contra um fundo verde. Vou-lhes analisar melhor o sorriso - às tantas, estavam a rir-se de mim...

1 comentário:

Paulo disse...

Gostei muito do artigo na Berlinda. E quanto ao casal Westerwelle, acho que tens toda a razão.