04 junho 2012

Brahms, como quem diz saudades



Para quem não entende alemão:

When the silvery moon beams through the undergrowth,
And its slumbering light scatters over the lawn,
And the nightingale warbles,
I walk sadly through the wood.

Shrouded by foliage, a pair of turtledoves coo their delight to me, but I turn away, seeking darker shadows,
And a lonely tear falls.

When, O smiling image which, like the dawn, shines through my soul, shall I find you on earth? And the lonely tear flows burning down my cheek.

*suspiro*

O meu coro vai acabar daqui a duas semanas. Na próxima segunda-feira é o último ensaio, e uma semana depois damos o último concerto. De momento andamos nos "discos pedidos", a matar saudades do que vamos perder, e hoje pediram uma peça de Brahms, que eu não conhecia.
A harmonização para coro, de Burkhart M. Schürmann, que tem idade para ser meu irmão mais novo, sublinha o carácter romântico da peça, e deixa-me indecisa entre continuar a cantar ou encher-me de tristeza por tudo, pelo coro que vai morrer e pelas peças como esta que não sei quando voltarão a passar por mim - smiling tones which, like the dawn, shine through my soul.

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Só encontrei um vídeo relativamente bom com coro - bem gostava de ter um melhor, e não o Hastings College Choir acompanhado por um lenhador ao piano. Pois, também isso: as saudades que vou ter do nosso maestro pianista!



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Uma das cantoras disse-me que vai regressar à Sing-Akademie zu Berlin. Um coro antiquíssimo, que já era bem maduro no tempo em que Felix Mendelssohn Bartholdy com ele reanimou a Paixão segundo São Mateus de Bach, perdida em longo sono desde a morte do compositor. Berlim ataca de novo: anda uma pessoa à procura de um novo coro para dar um gostinho ao gosto pelas harmonias românticas, e mal se distrai tropeça em episódios importantes da cultura musical europeia.

Contudo, quem, como eu, conhece as suas próprias limitações, nem vai ver onde é a sede da Sing-Akademie.

E portanto:

Procura-se coro. Que cante música da Renascença até hoje, de todos os cantos do mundo, e sobretudo do período romântico. Que tenha bom ambiente, gente bem-disposta, um maestro paciente que nos explique com entusiasmo a alma da música. Que a meio de uma peça de Schumann diga: "reparem neste acorde, isto é o Magnificat de Bach, ouçam" - e toca Bach, e fá-lo com um sorriso luminoso.

Vou ter muitas saudades deste coro.

5 comentários:

Gi disse...

E porque vai acabar o teu coro, Helena?

Helena Araújo disse...

Porque alguém teve a triste ideia de criar um coro com pessoal diplomático, que passa a vida a ir e a vir, e ultimamente têm ido mais do que têm vindo, de modo que somos poucos.
Como cada um de nós pagava 25 euros por mês (sim, que a troika também deu aqui: o ministério dos negócios estrangeiros não paga - deixa-nos usar uma sala onde há um piano, e muita sorte!), sendo tão poucos, o pagamento que resulta para o maestro é vergonhosamente baixo. Ele andou a aguentar isto uns meses, mas é mesmo demais. Ou de menos.

Gi disse...

:-(

Helena Araújo disse...

Ponham-se assim :(
e ainda me sai uma lagriminha...

Paulo disse...

:-(