17 abril 2012

relatório para um leitor deste blogue, que já me perguntou então que tal

Então, foi assim:

Primeiro fomos ver a exposição do Armin Müller-Stahl. Com vagar, porque não é todos os dias que se compra um quadro de um actor famoso. Depois de muito olhar, escolhemos estes (as fotografias estão péssimas, é só para teres uma ideia):

1. Um auto-retrato (gosto do seu ar pensativo)



2. Selbst als Narr (por um lado gosto, por outro este olhar cru inquieta-me)



3. Uma série de desenhos que ele fez sobre o guião do filme "die Buddenbrooks"






Desta série, o meu preferido é o que se segue, porque gosto dos azuis e me lembra um bocadinho o Fernando Pessoa, e gosto de imaginar o Fernando Pessoa desenhado pelo Müller-Stahl numa folha dos Buddenbrook:




4. Uma série de desenhos que ele fez sobre o guião do filme "UTZ" (gostamos ambos muito das cores)





5. Thomas Mann (a pensar)
(feito na altura em que ele representava o escritor, numa série sobre a família Mann)



Não conseguimos escolher. Eu estou cada vez mais entre o "Fernando Pessoa" e o auto-retrato. Talvez, eventualmente, o Thomas Mann (porque acho mesmo interessante olhar para o desenho que um actor fez sobre a pessoa que estava a representar. Vamos voltar lá esta semana, para comprar.
(Quem quiser dar opinião, é agora, ou cale-se para sempre, como de costume)

Saímos, descemos a avenida do 17 de Junho ao entardecer.


Fomos jantar ao Cafe am Neuen See. Tinha querido reservar uma mesa junto à janela, mas eles disseram que junto à janela não reservam. Quando lá chegámos, demo-nos conta de que eles não reservam mesa nenhuma. Sentámo-nos numa livre. Encomendámos. Uma mesa junto à janela vagou, mudámo-nos a correr para lá. Daí a bocadinho trouxeram-nos o vinho. O vinho branco fresco antes dos aperitivos?! Explicámos que ficaria morno antes de o começarmos a beber, foi para trás. Daí a bocado veio a sopa. A sopa antes dos aperitivos?! Perguntei ao empregado se estavam a ter problemas com o serviço. "Não, pelo contrário, o serviço hoje está impecável" (e eu a pensar, divertida: bom, como será nos dias normais?) e a seguir perguntou: "porquê, não estão satisfeitos com alguma coisa?" e nós explicámos a ordem pela qual queríamos receber as coisas. Ele foi buscar o aperitivo, que vinha por conta da casa, e até mandou um colega limpar finalmente a nossa mesa, que ainda tinha os pratos sujos dos clientes anteriores. O colega limpou as migalhas para o chão, por uns momentos estive de novo num restaurante do povo em Xian. Só faltava o serrim no chão.
E depois aconteceu tudo muito depressa: em menos de um minuto vieram os aperitivos, os pratos quentes, a sopa e o vinho. E até o pão.

A comida é excelente. Sopa fria de tomate com espuma de menta; salada de polvo com mousse de grão-de-bico; peixe grelhado com alecrim, com risoto de cebolinhas; e crème brûlée de chocolate com sorbet de manga. Foi a primeira vez, desde há muito, que achei que valeu a pena sair de casa para jantar num restaurante (exceptuando o restaurante do Hotel Pestana, o tal hotel que tem um parque enorme nas traseiras).
O ambiente também é muito bom. E aquele pôr-do-sol, muito discreto por trás das árvores do lago, então...


7 comentários:

cjs disse...

O amor é lindo!
Eu também gosto muito do meu quintal das traseiras.
E vou já a correr à galeria negociar a minha comissão, que me esqueci completamente. Gosto do Pessoa.

Helena Araújo disse...

Espero que te paguem o suficiente para comprares também um Pessoa para ti! :-)

sem-se-ver disse...

o mais bonito é o pessoa, o melhor é o auto-retrato (que é mesmo mt bom e, caramba, é o auto-retrato dele!)

Helena Araújo disse...

No fundo, se ouvir bem no fundo de mim, são também esses dois os meus preferidos.
O meu marido gosta muito do segundo, o Narr. Mas não gosta da técnica desses dois primeiros.
Eu digo-lhe que já comprámos alguns cuja técnica nos agradava, e metemos água que dava para encher um dilúvio. Não sei, mas não me parece que iríamos longe com uma galeria de arte...

sem-se-ver disse...

o pessoa é mt bonito mas poddia ter sido feito por ele ou o fulaninho dos anzóis. o auto-retrato, nãp. é dele. é autoral. é ele como visto sobre si mesmo. e é ele, o tal grande actor. a técnica é suficiente para dar uma vida inteira naquele rosto, em que há esse lado pensativo a par de uma melancolia que é, simultaneamente, preocupação.

não sei, ie, sei - mesmo ao nível do valor [comercial] que a obra adquirirá com o tempo, apostava nele.

Helena Araújo disse...

Obrigada, sem-se-ver!
Estás a ajudar imenso.

Sabes quem é este actor? É o taxista em Nova Iorque, no Night on Earth.

Também tem uma série sobre esse filme, mas não nos convenceu:

http://www.kunsthaus-luebeck.de/sites/mueller-stahl/editionen-05.html

sem-se-ver disse...

oh carinho, claro que sei quem ele é! olha, por ex, entra magnifico (=tocante) filme shine! ou no promessas perigosas do cronenberg. and so on :)