01 abril 2012

o ovo e a galinha


(fotografia encontrada aqui; vale a pena ler esse post e os comentários: 
parece que afinal há vida inteligente nas universidades)


A praxe em Coimbra foi suspensa devido a um inaceitável excesso de violência física. Se fossem ver a violência psíquica, suspendiam-na por cem anos - mas como ninguém me pergunta nada...

No meu segundo ano na universidade participei em "piquetes anti-praxe" à porta da faculdade, avisando os caloiros que não precisavam de entrar nesse dia no edifício, porque não estavam a perder nada, muito pelo contrário: lá dentro havia energúmenos a dar impunemente largas ao seu sadismo. E lembro-me bem da minha perplexidade perante os olhos brilhantes daqueles miúdos, sobretudo os das raparigas: eles queriam mesmo passar por isso!
Depois saíam com ordinarices pintadas na cara, cortes no cabelo, os casacos estragados com uma pasta de água e farinha, encharcados em água de limpar o chão, vítimas de mil e uma maldades - e isto foi há quase trinta anos, quando esse disparate que é a praxe começou a ser restaurado e a alastrar ao país - e faziam uma cara alegre, como se ser vítima de humilhação gratuita e sádica fosse um marco fundamental da sua entrada na Universidade.

No ano seguinte, vingavam-se. Nesses tempos do faroeste via-se perfeitamente como o nível de violência e sadismo aumentava de ano para ano.

4 comentários:

snowgaze disse...

Na minha faculdade nao era(nem e') nada disso. Nao havia caras pintadas, nem roupas estragadas, e, muito honestamente, achei a praxe divertida. Mais como caloira ate' do que como doutora. Ha' uns anos houve uma jornalista do Publico que, nao sei bem como, conseguiu infiltrar-se na praxe da FEUP (como pseudo-caloira) e saiu de la' com muito boa impressao. Noutros sitios cheguei a ver praxes estupidas e humilhantes. Na minha faculdade, sinceramente, nao. De todo.

snowgaze disse...

Acrescento, agora que li o artigo, o seguinte. Na faculdade a primeira coisa que se dizia aos caloiros era que nao eram obrigados a estar ali. E ninguem era obrigado a nada, nem a assinar nada. E, mais tarde, estudantes que nunca foram 'a praxe usavam capa e batina, como os outros, quando lhes apetecesse.
Na minha opiniao, havia respeito. Faziam-se muitas brincadeiras, com todos, e nao 'a custa dos caloiros, mas com os caloiros. Bons tempos. :)

Helena Araújo disse...

Cada escola será um caso diferente, admito. Na minha, durante os cinco anos que lá andei, foi da mal a pior. Cheguei a ver miúdas obrigadas a simular relações sexuais em cima da mesa numa das salas de aula. Mas eles riam-se todos...

Nan disse...

Sinto-me um fóssil! Quando andei na Faculdade, na FLUL - já lá vão uns anitos (entrei em 1979/80) - as «tralhas académicas» (capas, praxes, queimas de fitas) era consideradas curiosidades antropológicas específicas de Coimbra. Nos meus cinco anos de Faculdade nunca vi um universitário fardado de pinguim, nunca vi uma praxe. Quando oiço a desculpa da «tradição», fico furiosa - a tradição de que me lembro não incluía essas idiotices.