17 abril 2012

a minha vida a atrapalhar a minha vida

Depois do lançamento do tal livro que vocês sabem fico ainda uns dias em Portugal. Primeiro a passear o casal Kaminer, tanto e tão excelentemente que eles até começarão a pensar comprar em Portugal uma casinha para a reforma, pelo menos. Depois, a passear-me a mim própria.

Estava toda contente com este dia extra de férias em Portugal, quando a vizinha me deu uma grande novidade e eu estarreci. No dia do meu regresso, está a acontecer na nossa rua o acontecimento mais importante dos seus últimos setenta anos: vão pôr Stolpersteine, "pedras no caminho", uma por cada um dos judeus que saiu desta rua para os campos de concentração. Virá um rabino. Alguém recitará o Kadish por estes mortos. Um dos nossos vizinhos, que é judeu e meio francês, vai ler poemas do Paul Celan.
Uma dessas pedras foi paga por nós, é de algum modo uma herança para os nossos descendentes: para que eles não esqueçam que isto aconteceu um dia, a pessoas concretas com um nome, uma data de nascimento, uma morada, uma história, e a terrível violência do assassínio friamente calculado.

E eu - oh! pateta! - comprei um bilhete de maneira a ficar mais um dia em Portugal. Quando devia, tinha de, queria a todo o custo estar aqui.

14 comentários:

sem-se-ver disse...

não consegues ainda trocar o bilhete?...

Helena Araújo disse...

O primeiro problema é: quero trocar uma noite com uma grande amiga, e uma daquelas conversas intermináveis tipo soube-me-a-pouco, por essa cerimónia na minha rua?

O segundo problema é que vou incomodar quem comprou o bilhete, e que já tem tanto que fazer.

Mas o primeiro problema é realmente o mais bicudo.

Helena Araújo disse...

Ainda por cima estava toda contente porque ela deve-me 10 euros e eu já estava a fazer contas de cabeça onde havíamos de os ir gastar à grande e à francesa...
;-)

Leonor disse...

Sou meio obcecada pelas Stolpersteine. Acho a ideia brilhante e é terrivelmente tocante, vai muito mais fundo do que alguns monumentos exuberantes. Talvez sejam os nomes das pessoas e os dados sobre elas. Sempre que encontrava alguma aí em Berlim tirava uma fotografia.
Realmente, Helena, bem podia ser noutra altura.
Beijinhos

Helena Araújo disse...

Leonor,
pois é, bem podia ser um dia mais tarde!

sem-se-ver disse...

ah, foi contigo que 'ela' perdeu a aposta?? :D

Helena Araújo disse...

(hehehe)
pois com quem mais havia de ser?

cjs disse...

Estás na dúvida entre uma amiga e uma pedra ?
Podes perder a cerimónia, mas a pedra ainda vai lá estar quando regressares e lá ficará.
Já a amiga, diz que tem tendência para não parar quieta.

Helena Araújo disse...

E eu que estava a cair para o lado da pedra...
Vou pensar outra vez nisso tudo. Oh, vida de mil faces transbordantes!

cjs disse...

Então pensa que se caires para o lado da pedra te magoas, até porque é uma pedra metálica.
E na queda podes magoar alguém também, pela tua escolha.

Rita Maria disse...

Olha que a amiga, com jeitinho, perdoa, apesar das saudades. É rapariga muito flexível :)

sem-se-ver disse...

pedra, pq a amiga não desaparece e essa cerimónia, sim. pedra, pq conversar com a amiga podes de muitas maneiras e feitios e ocasiões, essa cerimónia é só numa situação. pedra, pq a amiga pode pagar-te os 10€ noutra altura ;-) e a pedra não tem preço.

:)

Helena Araújo disse...

Os últimos três comentários foram escritos em paralelo - nenhum dos três sabia o que o outro tinha escrito.
Mas parece um diálogo.

cjs, se isto fosse apenas uma pedra, era fácil de decidir. Vou fazer um post novo sobre isso.

Rita,
lá fora falamos. Com jeitinho, metemos um plano B na vida do Kaminer, que dizes? ;-)

sem-se-ver,
pois, isso mesmo.

Rita Maria disse...

@cjs <3