28 março 2012

Marlene Dumas Measures Her Own Grave


Do trapézio, sem rede, um blogue por onde tenho andado a passear. 
Isto pode muito bem ser síndroma de estudante de medicina no segundo ano do curso, mas esta Dumas parece que andou a falar comigo antes de ter escrito o poema. Ou então, as mulheres são todas iguais. Ou melhor, talvez: as mulheres por volta dos "cinquenta danos" (como ficou traduzido no trapézio) são todas iguais.
Em todo o caso, ó pra mim em dois versos que me fazem rir:
I might as well have my ashes in a jam jar / and be more mobile.




Measuring your own grave

I am the woman who does not know
where she wants to be buried anymore.
When I was small, I wanted a big angel on my grave
with wings like in a Caravaggio painting,
Later I found that too pompous.
So I thought I'd rather have a cross.
Then I thought--a tree.
I am the woman who does not know
if I want to be buried anymore.
If no one goes to graveyards anymore
if you won't visit me there no more
I might as well have my ashes in a jam jar
and be more mobile.

But let's get back to my exhibition here.
I've been told that people want to know,
why such a somber title for a show?
Is it about artists and their mid-life careers,
or is it about women's after-50 fears?
No, let me make this clear:
It's the best definition I can find
for what an artist does when making art
and how a figure in a painting makes its mark.
For the type of portraitist like me
this is as wise as I can see.

-- M.D., 2008

(poema e fotografia encontrados aqui)

7 comentários:

Rita Maria disse...

Fantástico o poema, muito bom :)

Helena Araújo disse...

O poema tem um ritmo que embala como um mar tranquilo, não achas?
(sim, eu sei: "ó Heleninha, muitos poemas são assim...")

Pronto, era só para dizer que gosto muito do embalo particular deste poema.

Rita Maria disse...

Tem tem, mas eu acho que embala como uma conversa com alguém de quem gostamos muito, uma daquelas em que não procuramos as palavras melhores, não argumentamos, não tentamos ter graça e não faz mal se o interlocutor adormecer porque nós também já estamos quase a dormir. É um poema de pijama.

Helena Araújo disse...

"poema de pijama" é mesmo muito giro, Rita.

Interessada disse...

Gostei muito.
Um poema que embala como um mar tranquilo já me faz lembrar as cinzas, e tem muito a ver com outro artista - Fellini e o seu lindíssimo filme "La nave va", bem como o formato de barco do seu túmulo.

RCF disse...

"Um poema de pijama". Gostei do sentido de humor.

Obrigado à Helena pela publicidade. :)

Helena Araújo disse...

RCF,
esta publicidade, faço-a com muito gosto! Eleva o nível deste blogue...

Interessada,
não fazia ideia que havia esse barco no túmulo do Fellini. Obrigada! Esta minha caixa de comentários é sempre a aprender.