02 dezembro 2011

querido Pai Natal (4)

Querido Pai Natal,

eu sei que noutros sítios é diferente de Nápoles, as professoras não batem nos meninos, mas porque é que nascemos todos em Nápoles? Onde nós estamos, no Secondigliano 167, muitos drogam-se e há tiroteios à noite, para pregar partidas uns aos outros, e quase atingiram o meu irmão Marco na perna, ele diz que foi por engano, que o confundiram com outro.
O papá já não vem a casa há meses, porque o levaram, chorei e chorei e ele disse, que é que hei-de fazer, não chores, eu volto em breve. Também levaram o Giuseppe, mas no domingo deixaram-no sair outra vez porque ainda é muito pequeno. E na escola a nossa professora bate-nos e diz palavras para nós chorarmos e expulsa-nos da sala, e quando nos deixa entrar de novo diz outra vez palavras.
E então continuamos a chorar por um bocado e por isso peço-te que me tragas seis ou sete Barbi, "rouge" para as miúdas e o comando à distância para brincar, quando o meu irmão não vê, senão ele dá-me uma taraia. Tu sabes que me chamo Maria Rosaria e sou um bocadinho triste e um bocadinho engraçada e gosto mesmo muito de ti.

Maria Rosaria - Secondigliano (Nápoles)

2 comentários:

sem-se-ver disse...

murro no estômago logo ao acordar.

vontade de bater nessa professora, também.

Helena Araújo disse...

Isto é horrível.
Se calhar devia começar a fazer duas por dia, para equilibrar: uma carta um bocadinho triste e outra um bocadinho engraçada.