30 agosto 2011

preciso de um novo dicionário, porque nos que tenho faltam palavras suficientemente fortes para exprimir o nojo que isto me faz

Isto:

29 Agosto 2011


fantástico

Portugal é um país fantástico e a cultura católica uma cultura extraordinariamente aberta. País de cultura católica por excelência, à frente da Secretaria de Estado da Cultura (ex-Ministério da Cultura) tem agora um judeu.


Um judeu a definir a política cultural de um país cristão e imensamente católico ... só se fôr para a destruir.





Nem sei o que me causa mais asco: se a aleivosia desta insinuação, se os argumentos da defesa na caixa de comentários, do género: "olhe que ele não é bem judeu".


Mas é um óptimo exemplo para se debater a liberdade de expressão e os seus limites.

Outro dia o farei - hoje não vou por aí, apetece-me antes delirar um bocadinho: onde estaria a cultura portuguesa se dela retirássemos todos os contributos culturais dos judeus? Imagine-se por exemplo a nossa literatura sem Camilo Castelo Branco, Fernando Pessoa, Herberto Helder.
- Ah, mas esses não são bem judeus...

O Pedro Arroja mandou mais uma vez a bola à trave. Pois ele não percebeu ainda que a verdadeira ameaça à nossa excelente cultura imensamente católica são os protestantes? Sim, esses que rejeitam o culto dos santos e o marianismo. Sim, esses herdeiros ideológicos dos terroristas que andaram a deitar fogo às igrejas onde se guardavam tesouros de arte medieval insubstituíveis. Estamos cercados, é o que vos digo, mas resistiremos. Assim nos ajude e por nós vele Santa Maria, mãe de Deus.

Para já, para já, e para cortar todos os riscos pela raíz, avisem a troika, a Merkel (ai! é protestante! estamos perdidos...), ou lá quem manda no país: na Secretaria de Estado da Cultura só queremos padres, e de preferência dos mais ortodoxos. Que isto é um país cristão e imensamente católico, e há que velar pela imutabilidade das ideias que o Pedro Arroja acha que são as nossas. Valha-lhe a minha Nossa Senhora.



29 comentários:

Anónimo disse...

Asco é mesmo a palavra certa... e um certo receio desse tipo de linha de pensamento também... Mas uma profunda tristeza por tão pequenas que estão as mentes do nosso país.

wapy disse...

Bolas, isto é mesmo para indignar uma pessoa. Não sabia que a religião interessava no que dizia respeito a cargos de poder ou nas funções profissionais de quem quer que seja.

Lá porque somos um país de maioria católica não quer dizer que todos os ministros tenham de o ser. Ainda bem que há um pouco de variedade lá em cima.

Helena Araújo disse...

Curiosamente, a religião interessa. Pelo menos na Alemanha, onde se sabe se as pessoas são católicas ou protestantes. Não quer dizer que sejam afastadas de um cargo por terem determinada religião, ou que se parta do princípio que não são adequadas para esse cargo por terem determinada religião, mas há aqui um fenómeno de grupos interessante.

Agora, o que está patente nestas curtas frases do Pedro Arroja não é uma questão de religião, mas de antisemitismo. Viu-se muito disso na Alemanha nos anos 30. Pensei que era um tipo de discurso que não se repetiria.

Carlos disse...

Tem razão. Helena: nojo; porque isto, sim, é anti-semitismo. Mas não deixa de ser engraçado que, se eu escrever um 'post' a criticar uma qualquer acção militar levada a cabo por Israel na Palestina, sou automaticamente rotulado de anti-semita, mas isto, que é verdadeiramente anti-semita, passa completamente ao lado de muitas pessoas que nessas alturas apontam de imediato um dedo acusador. Enfim.

(E, mais uma vez, parabéns: o 2 Dedos de Conversa é uma descoberta recente, mas este é o segundo texto essencial que leio num curto espaço de tempo -- e com recurso a uma ironia finíssima.)

Lucy disse...

Terrível. Que mais nos espera? Tenho a sensação de ir de disparate em disparate por todos os lados para onde me viro. Sou de uma religião (ui!) que me manda manter a Esperança!... Mas não é fácil...

Helena Araújo disse...

Carlos Azevedo, obrigada! Fico muito satisfeita por gostar de vir aqui.

Sim, é verdade que o debate sobre Israel e a Palestina anda bastante turvo devido a questões que lhe deviam ser exteriores. Mas é o debate que temos.
Quanto a este tipo de discurso: aqui na Alemanha, quem falar assim arranja sérios problemas com os tribunais.

Helena Araújo disse...

Lucy,
olhe com mais atenção - em algum sítio vai encontrar uma luzinha ao fundo do túnel.
Por exemplo: para contrabalançar este disparate, leio o Pina. Tem qualidade para contrabalançar este Arroja e mais uma boa dúzia deles!

Um abraço, e uma boa tarde para si.

Lucy disse...

Obrigada, Helena, mas é que
http://entreasbrumasdamemoria.blogspot.com/2011/08/o-governo-agradece-que-nao-oponha.html

Helena Araújo disse...

pois...

"mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa"

- será que o autor deste poema é da sua religião? ;-)

Gi disse...

Oh Helena, o teu estômago é mais forte do que o meu, que já nem consigo ler nada do que certas pessoas debitam.

Paulo disse...

Já nem me lembrava desse senhor, que só leio quando alguém o traz à colação. Há gente por cá com ideias muito agradáveis. Estamos muito bem servidos de Saraivas e de Arrojas. Estamos, estamos.

Inês Meneses disse...

Este tipo agora diz qualquer coisa para tentar ganhar a atenção das pessoas outra vez, não é? Fuck him, é um triste.

Helena Araújo disse...

Gi, Paulo, Inês: isto está muito para lá do que deve ser coberto pela liberdade de expressão. É preciso dizer abertamente: o Pedro Arroja tem uma retórica anti-semita perigosamente próxima da que se usou na Alemanha dos anos 30. Terá faltado a certas aulas de História, ou que parte delas é que não percebeu?

Ana Paula disse...

Helena,
Perante farpas ignóbeis como esta (e assite-se a tantas, vindas de setores vários!), hesito sempre entre o silêncio de desprezo ( contra a publicidade involuntária daquilo que não a merece de modo algum) e o dever da indignação ( que, por sua vez, deveria conduzir a uma discussão frontal de princípios e de perspetivas e não a uma mera troca de insultos mais ou menos velados). Tu costumas ter a paciência para a exposição/discussão com subtil ironia...Ainda bem! Mas começo a pensar se casos como este não exigiriam uma tomada de posição geral e inequívoca da "intelectualidade", como no tristemente célebre caso "Dreyfus"...

Gi disse...

Helena, esse fulano não tem só um discurso anti-semita: é também misógino e homofóbico e justifica isso com os argumentos mais arrevezados.
Percebo que aches que não é possível ignorá-lo, mas como não deve ser possível modificá-lo humanamente (humanely), não estou a ver outra solução.

sem-se-ver disse...

1. quem é o pedro arroja?

2. ele estava a brincar, não estava?

Helena Araújo disse...

Paula, Gi,
Penso que casos destes deviam ser usados para um debate muito sério sobre a liberdade de expressão, por um lado, e sobre o anti-semitismo, por outro.
E, sinceramente, acho que este caso concreto devia ir a tribunal.

Se morasse na Alemanha, depois de uma frase destas o Pedro Arroja ficava impedido de receber qualquer cargo do Estado, por manifesto desrespeito aos princípios constitucionais mais báscios, e tornava-se persona non grata para empresas privadas - nenhuma quereria ver o seu nome associado a gente tão absurdamente ignorante.

Helena Araújo disse...

sem-se-ver,
no meu tempo, o Pedro Arroja era um economista recém-chegado dos EUA, completamente deslumbrado pelas teorias neo-liberais.
A gente (eu e outros economistas) achava aquilo tão estapafúrdio que só dava para rir. Infelizmente, vinte e poucos anos mais tarde...

Não, ele não estava a brincar. Ele tem um discurso anti-semita como no apogeu do nazismo na Alemanha.

sem-se-ver disse...

(eu pretendi ser:
1. cínica
2. irónica.

para amenizar :)

(a nossa Constituição não proibe o racismo e a sua instigação? voilá)

Luís Novaes Tito disse...

Quem é o Pedro Arroja?

Helena Araújo disse...

Luís, quem é o Pedro Arroja pouco interessa.
O que me interessa é a ideologia que ele propaga. Para mais, num blogue com bastante leitores - hoje, por conta daquele seu tique de marialvismo transformado em post ("a Leninha de Berlim") chegaram ao meu blogue 147 leitores.
E nenhum deles parece muito assustado com o facto de alguém afirmar que ter um judeu à frente da SEC é para destruir a cultura portuguesa.
(o que é "ser judeu"?...)

Anónimo disse...

Para quem não conhece eu esclareço. Pedro Arroja (PA)álém de economista e prof. universitário, gestor de patrimónios é um PENSADOR

Tem a vantagem em relação aos demais de não estar formatado. Ou seja é independente, não faz parte das carneiradas da moda. Está pouco preocupado se o acham conservador ou retrógado ou coisa que o valha.

Essa acusação de misógenia é do mais ridículo e parvo que se possa imaginar. Um indivíduo que tem esposa, duas filhas uma a trabalhar na Suíça outra a estudar em Inglaterra é misógeno?

sem-se-ver disse...

ah caro anónimo,
que gosto lê-lo!

argumento inatacável, o seu - a minha vénia! ter esposa (1), 2 filhas (2), uma a trabalhar na Suíça (3) e outra a estudar em Inglaterra (4) são prova provadíssima que o senhor arroja não é misógIno (já agora, permita-me a correcçãozita).

credo, de onde se foi buscar a ideia de que, por se ter esposa (1), 2 filhas (2), uma a trabalhar na Suíça (3) e outra a estudar em Inglaterra (4), se poderá ser misógino? nunca jamais em tempo algum! pois, como diz, por se ter esposa (1), 2 filhas (2), uma a trabalhar na Suíça (3) e outra a estudar em Inglaterra (4), fica cabalmente provado que a misoginia não reina por ali. porque misoginia não é uma maneira de pensar, não! misoginia são factos como, por exemplo, NÃO se ter esposa (1), 2 filhas (2), uma a trabalhar na Suíça (3) e outra a estudar em Inglaterra (4). isso, sim, faz de qualquer homem misógino!

brilhante, realmente.

depois, curvo-me perante a sua sapiência - e eu, humildemente me confesso, não sou economista, não sou professora universitária, não sou gestora de patrimónios (nem do meu, uma desgraceira) e, claro está, muito menos sou pensadora, em minúsculas ou maiúsculas!

pelo que, concluo, quem é economista, professor universitário, gestor de patrimónios e PENSADOR, por esses - nada meros!! - factos, não pode, nunca jamais em tempo algum, ser racista ou anti-semita. NEM PENSAR!

quando fizer uma afirmação, preto no branco (ou nariz direito no adunco), claramente racista e anti-semita, ah!, ilumine-se o caminho!, está simplesmente a ser independente, nao alinhar em carneiradas e, está visto, a não ser retrógado!

pois só é dependente, carneiro e retrógado quem NÃO FOR racista e anti-semita. obviamente!! porque, coitado dele, está preso a mentalidades que paulatinamente se foram afirmando nos últimos 200 anos. my god, 200 anos??? que cena mais conservadora! NÃO! o racismo e o anti-semitismo tem milénios, mas, quem o for, na vanguarda se mantém, independente e altivo lobo, pois mais valor se encontra na mentalidade antiga do que na moderna!

ah, estes modernaços de treta que têm a mania de vilipendiar economistas, professores universitários, gestores de patrimónios e PENSADORES quando estes, afinal, não fazem mais do que se demonstrar independentes face ao anti-racismo. valentes! dignos! honestos! correctos! vanguardistas!

fiquei cheia de vontade de o conhecer.

a si anónimo. tão soberbo poder de argumentação deve provir de uma mente particularmente brilhante, mesmo que momentaneamente ofuscada por aquele tão distinto economista, professor universitário, gestor de patrimónios e pensador que tem esposa (1), 2 filhas (2), uma a trabalhar na Suíça (3) e outra a estudar em Inglaterra (4)...

(o senhor é feminista, não é? hum? confesse lá...)

Luís Novaes Tito disse...

Helena,
Com essa do “a Leninha de Berlim” lá me aguçou a curiosidade que fará com que eu vá ler esse tal Pedro Arroja. Isto não se faz.
De uma coisa tenho a certeza: Se ele lhe enviou hoje 147 leitores, a Helena mandou-lhe, pelo menos, o dobro. Digo isto porque conheço os bons blogs, razão porque leio regularmente o seu, e não conheço o blog do tal Pedro Arroja, mesmo sendo ele pai de filhas emigradas na Europa central, professor universitário, etc.

Helena Araújo disse...

Luís, desculpe! Se eu lhe contar que o título do novo post é "esbelta", consegue resistir?
;-)

Obrigada pelo elogio ao meu blogue.

Luís Novaes Tito disse...

Já fui ler e já fiquei com uma ideia de quem é esse tal Arroja.
Até o achei simpático consigo. Não se esqueça de lhe telefonar :))))

Luís Novaes Tito disse...

Ah, e aquilo que disse do seu Blog não foi para elogiar. Todos sabem que é assim mesmo.

Helena Araújo disse...

Luís,
:-)))

Cristina Gomes da Silva disse...

Eheheh! Eu gostei muito daquele epíteto - pensador - trazido pelo leitor anónimo que precisou de grafar em maiúsculas e tudo. Olhem, é caso para dizer que se pensasse menos não se perdia nadinha