30 agosto 2011

como abordar o escritor mais famoso de Berlim

Será que já contei? Estou a traduzir um livro muito divertido de Wladimir Kaminer, um russo que mora em Berlim e escreve em alemão histórias completamente loucas - ele diz que é tudo verdade, e que às vezes a realidade é tão mais estranha que ele nem se dá ao trabalho de a escrever porque ninguém ia acreditar (ahem, se calhar não foi bem isto o que ele disse, desarrisquem esta parte) - histórias completamente loucas, dizia eu, sobre as peripécias dos russos da perestroika no mundo em geral, e no microcosmo de Berlim em particular.

Gosto do humor dele, muito compatível com o meu. Aliás, em português acho que nem se vai notar a diferença... (ai! espero que os grandes chefes não estejam a ler isto). Há muito que me interessava conhecê-lo pessoalmente, e um dia destes ainda hei-de ir ao café berlinense que ele transforma em discoteca russa uma vez por mês.

Ora bem: às vezes desconfio que uma espécie de inteligência superior dirige o Universo e gosta muito de mim. Podem crer. Por exemplo: no fim-de-semana passado fui para a tal ilha no Báltico com alguma pena de não ficar em Berlim, porque no sábado o Kaminer ia ser outra vez o DJ da discoteca russa. Eis senão quando, ao passear pela rua principal de uma cidadezinha a meia dúzia de metros do fim do mundo, vejo num cartaz que ele ia estar no teatro local a ler passagens do seu livro mais recente.

Impressionante: os bilhetes custavam 17 euros, e o teatro, com mais de duzentos lugares, estava completamente lotado. Isto deve ser mesmo um povo de poetas e pensadores: gente disposta a pagar o equivalente a três bilhetes de cinema para ouvir um homem ler umas coisitas que escreveu. Embora ele seja bem mais que um escritor - ele é uma máquina de fazer rir as pessoas. Há momentos em que tenho pena dos meus amigos que não entendem alemão, e aquele serão foi um deles, porque o Kaminer, em palco, faz Kabarett do melhor. 

Ao entrar no teatro pedi se podia falar com o escritor. E (milagres da província!) chamaram logo a organizadora da sessão, que era também a jornalista da terra. Quando soube que eu estava a traduzir um livro dele, levou-me para o seu camarim. Caí-lhe em cima do jantar - estava a comer uma banana -, engoliu rapidamente um bocado para me fazer um sorriso e combinámos um encontro em Berlim. No intervalo deu-me um CD com música da sua discoteca russa, no princípio da segunda parte contou ao público que estava ali presente "a minha tradutora portuguesa", e no final a jornalista fez fotografias para adornar a notícia no jornal local. Eu ainda me lembrei de uma pose fantástica como vi uma vez ao Saramago com a sua tradutora de alemão, mas ele queria era meter-se no carro e voltar para Berlim, a quase três horas de caminho, de modo que pôs a sua cara de frete nº 3, e pronto. Clic, clic, adeus.

Adeus, quais quê! Até breve. Amanhã vamos tomar um café para falar do trabalho.
E agora estou a ler algumas das suas entrevistas, já vi que dizem que é parecido com o George Clooney (hehehe, olhem a minha sorte: dois em um!).
O próximo projecto é aprender a dançar aquelas músicas muito tipocomodirei do CD que me deu. A ver se o youtube me ajuda a encontrar aulas de folclore do Cáucaso, algo me diz que é para ir por aí.

16 comentários:

Paulo disse...

Tu atentas-me :)

(Tomara já isso editado. Uma amiga já me tinha falado do Kaminer mas ainda não li nada dele.)

Helena Araújo disse...

Nem queiras saber, Paulo: hoje passo a manhã com o fenício do zumba, e a tarde com o George Clooney que veio do frio!

E se queres saber tudo: à noite, o jantar vai ser feito por um dos simpáticos portugueses que estão a passar uns dias cá em casa. Com jeito, ainda fazem um concertozito de guitarras.

Tu sabes alemão, não precisas de esperar pela tradução. Queres que te mande pelo correio alguns já lidos? Emboramente: o livro em português vai ser muito mais bonito que em alemão. Não o texto (hum, hum) mas o livro propriamente dito: um luxo, um autêntico prazer dos sentidos.

E então: a tentação tua de cada dia te dei hoje? ;-)

sem-se-ver disse...

olha o clooney em giro!!

Paulo disse...

Falaremos sobre esse assunto.

Helena Araújo disse...

:-)

snowgaze disse...

Depois tens que avisar quando é que sai a tradução... fiquei com vontade de a ler :)

Rita Maria disse...

Boa!
(dançar esse CD: salta muito!)

io disse...

Eu, mais do que o Paulo (só porque não sei alemão, oh Padrinho!), estou ansiosa por esse livro. Um tipo com um sentido de humor parecido com o teu, a escrever sobre a realidade já seria o suficiente, mas ainda por cima traduzido por ti: venha-me essa beleza de livro! Já me estou a imaginar a oferecê-lo ao mundo.
;-) E olha que não antevejo que, nesta tarde, estejas a ter qualquer dificuldade em abordar o Clooney russo. Acho que o Clooney russo é que nem imagina, nem sonha a sorte que tem em te ter como a sua tradutora portuguesa. No livro que andei a ler da Yourcenar ela fala das suas relações com os seus tradutores e eu dei-me a pensar em ti: espero que este tipo seja simpático e que tenha a atitude da Yourcenar para com o seu tradutor de hebraico: ouvia-o mas não se imiscuia porque não percebia patavina da língua ;-)

Helena Araújo disse...

sem-se-ver: e não é que é mesmo! Em muito mais giro!
(quer-se dizer: ainda não estive a tomar um cafézinho com o Clooney, mas este aqui é um bocadinho insuperável. E simpático que até faz impressão.)
Fiquei de lhe dar um CD de música portuguesa, para retribuir o da sua Russendisco. E ele disse que ia pôr a tocar na sua discoteca russa! Ah, preciso de uma especialista: que CD me aconselhas? Eu ia-lhe dar um Deolinda, "canção ao lado", mas no momento de sair de casa deixei-o na entrada...
Ou, melhor ainda, que tal compormos um CD com músicas portuguesas boas para dançar?

Rita, queres vir saltar comigo no próximo dia 10 a partir das 10 da noite?

io, muitos :-) :-) :-) e vou já traduzir. Se estás à espera, vou-me despachar o mais que posso.

mdsol disse...

Helena, desculpa o atrevimento, mas, que tal o "Por este rio acima" do Fausto? Eu sei que é velhinho, mas, porém, contudo, todavia, não obstante ... já estou a imaginar o Clooney do Cáucaso a menear-se enquanto ouve: o barco vai de saída, adeus ó cais de Alcântara... ou do Navegar, navegar, oh minha cana verde, navegar navegar lá lá lá lá lá lá...

:))))

:)))

Helena Araújo disse...

mdsol, todos os atrevimentos são bem-vindos! O problema é que não me apetece nada dar-lhe esse meu rico CD...
Mas é óptima ideia, claro.
Acho que lhe vou dar uma cópia de segurança, para o caso de um dia a minha casa arder, já sei onde o posso recuperar. ;-)

Helena Araújo disse...

Por acaso estou aqui a rir-me, mas estas coisas têm regras complicadas. Não se pode tocar uma música de um CD assim sem mais nem menos num local público. Tenho de me informar.

Gi disse...

Também fiquei com vontade de ler esse livro, venha ele, senhora tradutora.
E o rapaz é giro, sim senhora, e faz lembrar o Clooney, mas ainda que não fizesse.
A difusão de músicas em locais públicos paga direitos de autor, mas isso é com quem as passa, não com quem as oferece ;-)

Helena Araújo disse...

Gi,
e os olhinhos dele a rir?
Ai, o Clooney que se cuide, vai ter de dar um desconto de 70% nas máquinas de café para a gente se dignar olhar para ele!

Rita Maria disse...

Vamos por turnos: o turno da Cinderela é o teu, eu vou no da meia noite. Chego um bocadinho antes para não pagar entrada e assim ainda nos vemos!

Helena Araújo disse...

Rita, eu vou às dez para falar com ele. Dar-lhe o CD prometido e mostrar-lhe alguns dos livros da colecção para ele quase morrer de orgulho, porque aposto que o português vai ser o livro mais bonito que alguma vez lhe aconteceu (estou a falar, obviamente, do livro em si).