08 março 2011

eis como transformar uma patetice numa oportunidade:



Sugiro que o filme de apresentação de Portugal no próximo Festival da Eurovisão seja um pequeno documentário onde fique claro que, para poupar 250 milhões de euros, o Governo português eliminou o abono de família aos agregados familiares com rendimentos anuais brutos superiores a 8.803 € (mais informações aqui e aqui), e que os outros - os que dispõem de menos de 700 € mensais para alojamento, alimentação, vestuário, medicamentos, transportes, etc. - também sofreram cortes no abono de família. Só com o que conseguiu poupar reduzindo os apoios aos agregados familiares com rendimentos anuais brutos entre os 2.934 e os 5.869 euros (isto dá sensivelmente entre 200 e 500 euros por mês!) o Governo reduziu a despesa em 150 milhões de euros. Contem no filme que será passado a partir de Düsseldorf que, para “dar sinais claros e inequívocos do esforço de consolidação das finanças públicas que Portugal está a efectuar, reforçando a credibilidade financeira junto dos mercados internacionais”, o Governo português retirou apoios às crianças que já vivem muito abaixo do limiar de pobreza, poupando assim 150 milhões de euros - que é, por exemplo, o montante anual extra que a universidade de Viena diz ser necessário para se poder equiparar à universidade de Zurique ou à TU de Munique (não é 150 milhões para essa universidade funcionar, é um complemento para conseguir chegar ao excelente nível das outras). Mostrem as casas em que essas crianças vivem, o que comem. Perguntem à Angela Merkel se o Governo alemão acha bem que na União Europeia haja crianças a crescer nestas condições, e se o povo alemão aprecia realmente estes sinais claros e inequívocos vindos dos países do Sul. Mostrem esta tabela aos alemães, juntamente com uma lista de preços: quilo de pão, litro de leite, livros escolares.




Podem ter a certeza que, se os alemães (que têm abonos de família de pelo menos 184 euros mensais por cada filho, pelo menos até aos 18 anos) souberem isto, vão olhar para os Homens da Luta com outros olhos. Talvez pressintam nessa maluquice de canção um ar de jasmim, um grito de Tahrir.

(Mas não traduzam a letra da canção, por todos os santinhos, não traduzam a letra da canção!)

5 comentários:

ANTIFALSIDADES disse...

Eu anda não parei de rir com isto dos Homens da Luta. A Alemanha a pensar que somos todos como o PM, limpinhos e a dizer que sim e, afinal, vão lá estes mal vestidos e a dizer não...:))Enfim eu preferia que tivesse ganho o decote da Wanda Stuart:))
http://antifalsidades.blogspot.com/2011/03/e-parece-que-luta-ainda-continua.html

Carla R. disse...

Talvez seja mesmo por ai, mostrar o preço do pão e do leite... Um vizinho meu visitou, ha semanas Lisboa, antes tinhamos falado do salario minimo (motivo de boquiaberturas diversas) e veio ainda mais espantado com o nivel de vida - estava convencido que era tudo ao preço da chuva. "Mas isso assim não faz sentido!! Mas como é que é possivel ??" Repetia incrédulo. Acho que ainda por cima passei por mentirosa... Talvez perceba quando vir esta manifestação sonora Em que radio pirata ainda passa o festival da Eurovisão ?

Ant.º das Neves Castanho disse...

Helena, sabes bem qual é o contraponto de tudo isto, não sabes? Então é bom que digam também aos Alemães qual a percentagem de Professores que se reforma no topo da carreira e, já agora, o valor NOMINAL das Pensões de reforma de Juízes, Políticos, Autarcas e dos senhores Militares (e, sobretudo, a IDADE COM QUE SE REFORMAM) e respectivas Viúvas!


Digam tudo isso também ao vizinho d'"A mãe que capotou" (que deve ter reparado, incrédulo, na excelência e juventude do parque automóvel que se passeia impante pelas auto-estradas suburbanas e pelos majestosos centros comerciais de Lisboa), a ver se assim tudo já "faz sentido".


Crise? Qual crise? No Norte, sim. Do Mondego para baixo é consultar as estatísticas de consumo no último Natal (os alemães também não sabem que em portugal se gastou mais per capita neste Natal do que na Alemanaha!) e as das vendas de automóveis de alta cilindrada, jipes topo-de-gama e até modelos de luxo.


Depois expliquem aos alemães quem está, de facto, a pagar isto tudo, há quantas décadas e quem, quem foi o Criador do Monstro. Digam-lhe ainda que foi o mesmo homenzinho que governou portugal nos tempos áureos dos fundos comunitários (os inesquecíveis "milhões diários"...) e que esse mesmo velho político e ex-governante acaba de ser premiado há menos de dois meses com a re-eleição para mais um lustro como Presidente da República e isso talvez os assuste mesmo, a ponto de interromperem a transmissão do Eurofestival...


É que no mundo da WikiLeaks em que vivemos já não dá para contar só a parte do Capuchinho. Convém saberem também a versão do Lobo Mau...

Helena Araújo disse...

O parque automóvel português, os restaurantes cheios e os consumos de luxo também me deixam pasmada.

A história das reformas, tanto quanto sei, tem andado a ser objecto de reforma por parte do governo Sócrates. Há anos que ouço falar na insustentabilidade desses esquemas, e ainda outro dia se falava em não ser possível acumular reformas e vencimento. Ou entendi mal? Continuem, há muito para mudar.

Pode ser que para os lados de Lisboa as coisas estejam melhor, mas voltei a ouvir falar em aumento da pobreza em Setúbal.

Quanto às estatísticas do consumo, há pelo menos dois factores a ter em conta: um povo que se endivida como louco, e um grupo etário com trabalho precário e mal pago, que continua em casa dos pais porque não tem como começar uma vida independente, e usa o salário como "mesada".

Em todo o caso, e para acabar de vez com as dúvidas sobre as condições de vida no nosso país: não deve haver muitos alemães ou franceses dispostos a irem trabalhar para Portugal sujeitos às mesmas regras dos portugueses. E à mesma segurança social, e ao mesmo SNS.

Conde de Oeiras e Mq de Pombal disse...

Claro que não! Até os ucranianos e os brasileiros já se estão a ir embora...