04 março 2011

caixa automática

Por volta de 1998, tinham os meus filhos 4 e 2 anos (e os computadores ainda tinham problemas com os acentos - nem queiram saber os truques a que os tradutores de software recorriam para tentarem tornear as dificuldades), enviaram-me esta piadinha:

Os portugueses acabam de inventar a caixa Multibanco-DRIVE-IN.
Basicamente é uma caixa multibanco normal, mas a uma altura mais reduzida para permitir levantar dinheiro sem sair do carro. Para usar esta novidade foram divulgadas instrucoes especificas que se aplicam a cada caso, por favor leia as instrucoes que se aplicam a si:

***Homens***
Guiar ate a caixa Multibanco
Baixar o vidro da janela
Inserir o cartao e introduzir o PIN
Introduzir quantia desejada
Retirar o dinheiro, cartao e recibo
Fechar o vidro
Continuar a guiar

***Mulheres***
Guiar ate a caixa Multibanco;
Fazer marcha-atras 1 metro para alinhar a janela com a caixa
Multibanco;
Deixar o carro ir abaixo;
Baixar o vidro da janela;
Abrir a mala, retirar o estojo de maquilhagem e encontrar o cartao;
Verificar a maquilhagem no retrovisor;
Tentar meter o cartao na maquina ( abrir a porta do carro para mais facilmente aceder a maquina, devido a distancia entre o carro e a maquina );
Inserir cartao;
Re-abrir a mala e localizar o maco de cigarros com o PIN escrito;
Inserir PIN, cancelar, voltar a introduzir o PIN;
Introduzir quantia desejada;
Verificar maquilhagem e cabelo no retrovisor;
Retirar dinheiro e recibo;
Localizar carteira e guardar o dinheiro;
Localizar livro de cheques para guardar o recibo;
Re-verificar maquilhagem;
Avancar 2 metros com o carro;
Fazer marcha-atras 2 metros para alinhar a janela com a caixa Multibanco;
Retirar cartao;
Localizar bolsa do cartao na carteira e guardar cartao;
Re-verificar maquilhagem;
Voltar a ligar o carro e arrancar;
Guiar durante 3 kilometros; Destravar o travao de mao;


Respondi-lhes assim:

Que generalização mais tola sobre as mulheres! Se fosse eu (e eu sou muito mulher!) era bem diferente:

***Helena***
Guiar ate a caixa Multibanco;
Reconhecer a caixa Multibanco tarde demais;
Continuar a rodar até à seguinte, mas não poder travar porque o de trás vem muito colado a mim e ainda havia um acidente, e por isso:
Rodar até à terceira (e última) caixa da cidade;
Fazer marcha-atrás 1 metro para alinhar a janela com a caixa Multibanco;
Deixar o carro ir abaixo ("paciência, e além disso assim sempre poupo alguma gasolina");
Baixar o vidro da janela;
Abrir a mala, retirar as duas chupetas, o carrinho vermelho da Matchbox, o CD-Terminologia e a fralda de reserva, e procurar o porta- moedas;
Olhar para o banco, e ver o porta-moedas lá pousado;
Tirar o cartão do porta-moedas;
Olhar para o banco de trás e verificar se os gelados de chocolate não começaram ainda a escorrer pelos bancos até ao chão;
Ver que as pipocas já se espalharam por todos os lados;
Ralhar com a Christina, que tinha o pacote na mão;
Rir à socapa com a resposta "a culpa é tua, já te disse que não devias fazer as curvas tão depressa";
Tentar meter o cartao na máquina (ligar de novo o carro e avançar um pouquinho; voltar atrás; ir repetindo a manobra, em aproximações sucessivas de 2 cm cada, até chegar perto da máquina);
Inserir cartao;
Re-abrir a mala e retirar o cartão certo, porque com o cartão do telefone não vou longe;
Pensar: "ai meu deus, como é que era o meu número?";
Virar-se para trás dizendo num tom decidido "pouco barulho, vocês os dois, que eu estou a ficar nervosa!"
Saltar do carro para ir limpar o gelado que já começou a chegar ao chão e, ao fazê-lo,
Bater com a porta na caixa automática;
Dizer algumas "daquelas" palavras;
Voltar a fechar a porta, e começar a limpar os filhos e o carro num exercício de contorcionismo pleno de maestria (mas também, são muitos anos de experiência acumulada);
Inserir PIN, cancelar, voltar a introduzir o PIN;
Tentar de novo, cancelar antes que o cartão seja engolido definitivamente pela máquina;
Retirar o cartão;
Ligar o carro;
Rodar até à casa de uns amigos e pedir 50 marcos emprestados para comprar alguma coisa para o jantar;
À saída do supermercado, ver uma caixa automática;
Inserir o cartão, o PIN, a quantia pretendida;
Retirar o cartão e arrumar na carteira;
Avançar;
Voltar atrás e retirar o dinheiro;
Ir muito depressa para casa e deitar-se rapidamente, porque este é um daqueles dias em que nem devia ter saído da cama.

***

Parece que falta pouco para o dia internacional da mulher. Nesse dia não nos ofereçam rosas - um copito de champanhe dá mais jeito, para atenuar o stress de uma vida assim.

8 comentários:

Carla R. disse...

Muito champagne, muito champagne !
E o meu computador também (ainda) tem esses problemas, e sim, eu sei que é facil resolver, mas agora não me da jeito, tenho que ir limpar a mesa do pequeno-almoço, o pão que "caiu" no chão, o sumo de laranja que "escorregou" na cadeira, o copo que "deslizou" para baixo do sofa.

Ant.º das Neves Castanho disse...

Uma excelente abertura de "hostilidades" com o Entrudo! Os argumentistas do Bruno Nogueira ainda não te contactaram?! E até, por que não, abrir concurso para uma "Gata Fedorenta" era capaz de ser boa ideia, para refrescar o humor felino...


Cá por casa tudo bem, obrigado, isto a propósito do tempestivo tema "4 e 2 anos". Esta manhã ainda sentíamos na cozinha as sequelas, odoríferas, da contribuição vespertina, do Gusti (o de dois anos), para uma mais animada «Quinta-feira de Comadres», com o seu repentino e pujante jacto de sopa, arroz e salsichas (é o raio da pele, que por vezes o faz engasgar...), que ensopou um par de calcinhas de ganga e empapou uma pantufinha da Avó, para além dos dados colaterais do costume no prato da comida, na toalha, na perna na mesa, no chão, claro, e ainda na bota esquerda do Pai! Vá lá, que as calças de trabalho (novas) escaparam ilesas no meu dos "estilhaços"...

Helena Araújo disse...

Pois, mãe capotada, o urgente e o importante nunca hão-de casar...

Pois, A.Castanho, estou agora mesmo a beber café por uma caneca "I love cats" e nem assim se lembram de mim...
O que me dá mais vontade de rir é que aquilo são mesmo retalhos da vida de uma jovem mãe. Estou quase a compreender o jovem pai Guttenberg, e os seus esquecimentos...
(ai! eu não disse isto! eu não disse isto! ;-) )

Ontem era quinta-feira - carnaval das mulheres. Durante a visita, as enfermeiras cortaram a gravata do Joachim. Estava tudo previsto, claro, levava uma gravata velhinha...
Eu, que sou muito mal-intencionada, olho para estas patrulhas de mulheres que cortam as gravatas aos homens e imagino outras coisas. Engraçado como a sociedade "civiliza" e transforma em tradição certas pulsões.

SofiAlgarvia disse...

Ri-me imenso com a tua descrição, Helena.
Ontem estive quase a fazer uma figura parecida, só para poder enfiar o ticket do parque de estacionamento na bela da máquina.
Curva mal dada, nariz a pingar por causa da sinusite que me atacou..., agarra no lenço, deixa cair o ticket, agarra no ticket, deixa cair o lenço.... Argh...Mein Gott!!!

Helena Araújo disse...

SofiAlgarvia,
e eu dei uma boa gargalhada com a tua descrição.
O melhor do mundo (logo a seguir às crianças, claro, claro) é sermos capazes do que nos acontece.

Ant.º das Neves Castanho disse...

«Sermos capazes do que nos acontece» é capaz de ser uma óptima réplica carnavalesca ao meu insólito e inexplicável «no meu dos "estilhaços"»...



Engraçado, essa do Carnaval das Mulheres! E na Quinta anterior, também fazem aí o Carnaval "dos Homens", similar à nossa tradicional (e quase esquecida...) "Quinta-feira de Compadres"?

Helena Araújo disse...

hehehe,
isto anda tudo ligado!

Sermos capazes de rir do que nos acontece, claro.

Eu acho que o carnaval dos homens é no resto do ano todo...
Mas - sobretudo na antiga RDA - é no dia do pai (aqui é no dia do Corpo de Cristo) que homens e rapazes saem por aí em cerimónias de "iniciação" bem regadinhas a cerveja. Fazem caminhadas de taberna em taberna, ou vão puxando carrinhos onde levam as bebidas.

sem-se-ver disse...

amei a dos 50 marcos emprestados como remate! :D