17 fevereiro 2011

"a culpa dos gay"

Aprender até morrer:
"A culpa, ao contrário, do que por aí se advoga, não advém dos valores e da moral da sociedade, que muitos atribuem à raiz religiosa. A culpa dos gay resulta de estarem em rota de colisão com a sua natureza biológica. E como nada podem fazer contra isso, pensam que se interferirem nas 'regras' sociais da sexualidade relativizam a natureza (regras biológicas), superando-a, e assim a culpa desaparecerá. Pura ilusão."
Publicado por Maria Teixeira Alves no Corta-Fitas.

Ora vejam-me aqui estas caras de rota de colisão com a natureza biológica (reparem bem no ar desconsolado que eles fazem, cheios de sentimentos de culpa, ai, uma aflição):




Aprender até morrer. Também se aprende muito com este filme:




Mas gasta-se algum tempo. São 52 minutos no total. Quase uma hora, para ficar a saber que afinal a Natureza ainda não percebeu que aquelas coisinhas é só para preservar a espécie.
Quem tem uma hora para perder a informar-se? Mais vale não ver, e usar o tempo poupado para disparar à queima-roupa contra os gay e as suas manigâncias para relativizar a natureza.
Sim, que ele há horas complicadas. Como esta, que nos revela que o "santo nome" da Natureza tem sido invocado em falso. Por esses que a observam de muito longe, filtrada pelos binóculos da moral, e assim a conseguem relativizar, gerindo-a como marioneta de um discurso pré-concebido. Para impor aos gay uma culpa que na Natureza não existe.

Em suma, e voltando aos leões do primeiro filme: a sorte deles é não terem uma leoa por perto a dizer que aquilo é pecado, e a resmungar "olhem-me só para este comportamento contra-natura! com estes gajos a portar-se como humanos, onde é que vamos parar?"

(Um dia destes ainda aparece aí um lobby de animais a queixar-se dos maus exemplos que os gay dão, que estão a perverter todas as espécies) (às tantas, os culpados daquela pouca vergonha dos leões foram os marinheiros portugueses dos descobrimentos: foram dar maus exemplos para a savana, e desde então nunca mais houve moralidade entre os bichos)

14 comentários:

snowgaze disse...

Isto é que é serviço público, ainda ontem estive a explicar a um amigo meu que há animais com comportamentos homossexuais - não sei porque é que ele se recusava a acreditar... Agora estou na dúvida se lhe hei-de mandar os vídeos... isso é muito explícito!!! :-) Aqueles leões são tramados para a brincadeira, eu nem sei se percebi bem o que ali se passa. ;)

Helena Araújo disse...

Querem lá ver que eu agora adivinho os teus desejos?!

O que ali se passa é uma pouca vergonha, um ménage a trois!
Aqueles sabem mais do que os marinheiros portugueses lhes ensinaram...

Viste o segundo filme? Explícito mesmo! Então na parte dos bonobos, nem te digo. Gosto especialmente da passagem "make love, not war": duas macacas a resolver um momento de tensão.
Se nos obrigam a copiar o exemplo da natureza, estamos tramados: imagino como passarão a ser resolvidas as cenas de peixeirada.

Anónimo disse...

Receio que estes filmes com animais sejam, no contexto da discussão, contraproducentes: pessoas da jaez de Maria Teixeira podem usá-los para alegar que a homossexualidade é um retrocesso a um estado mais primitivo da natureza. Faltam-lhes argumentos, são capazes desta vileza; tome a senhora atenção. Lucas

Paulo disse...

Não acho, Lucas. Pessoas como Maria Teixeira Alves dirão sempre o que lhes apetece. Sabem muito de Biologia, coisas singelas, enfim, que há sexos diferentes e que a natureza os fez diferentes para se unirem e 'mai nada'. Aposto que ela também não sabe, a menos que venha ler o 2 Dedos, que aquelas coisinhas também servem para brincar.

Helena Araújo disse...

Lucas,
um problema de cada vez.
Para já, foi afirmado que tal e coisa, a rota de colisão com a natureza biológica, etc., e eu passei dois filmes onde se mostra que a homossexualidade não está em rota de colisão com coisa nenhuma. Excepto com a natureza que existe na cabeça de certas pessoas.

Se alguém se lembrar de dizer que afinal essa é uma natureza primitiva, não sei como combinar esse argumento com aquela história de no princípio as coisas terem sido criadas apenas com o objectivo da procriação. Venha o segundo round, cá estarei.

Isto é tudo muito engraçado, mas a questão central é esta: há gente que não tem a sua própria homossexualidade resolvida, e morre de medo do que o exemplo dos homossexuais possa despertar em si própria. Por isso os recusam.

snowgaze disse...

Pois, só fiquei na dúvida se aquilo ia rodando ou se havia, digamos, papéis fixos. O segundo já era muito comprido, e eu já tinha bisbilhotado a vida dos leões mais do que queria... ;)

sem-se-ver disse...

clap clap

André Pereira Matos disse...

Extraordinário post, capaz de me acalmar a ira depois de ler o comentário analfabeto da referida senhora...

E vivam o conhecimento e a natureza!

Unknown disse...

Acho que dizer que ser gay é ir contra a Biologia é tão redutor como achar que os vídeos apresentados demonstram a homossexualidade nos animais e na Natureza. Podem parecer em animais, “comportamentos homossexuais” mas são mais jogos de aprendizagem entre animais do mesmo sexo. E já agora uma provocação: Sabem que esses “comportamentos homossexuais” aumentam em animais em cativeiro?

João Martins

Helena Araújo disse...

João,
pois acredito que em cativeiro aumentem, sim senhor: se não lhes dão uma TV para eles se entreterem... ;-)

Tens razão: na maior parte dos casos não se comprova uma homossexualidade - quando muito, uma bissexualidade. Mas parece-me que é muito mais que um jogo de aprendizagem: o que é que um búfalo que já é pai e avô ainda tem para aprender com outros búfalos? O que é que duas bonobo que já são mães precisam ainda de aprender uma com a outra? E porque é que eles aprendem com os do seu próprio sexo, quando na maior parte dos casos o sexo oposto está ali mesmo ao lado?

Também há o famoso caso dos pinguins gay que chocaram um ovo rejeitado pelos pais biológicos.

Mas o que eu queria dizer é que, como se vê nos filmes, a Natureza serve-se do prazer sexual para muito mais que apenas procriar. Não é correcto ler a Natureza com os olhos da Moral para justificar a homofobia.

Anónimo disse...

eu passei dois filmes onde se mostra que a homossexualidade não está em rota de colisão com coisa nenhuma

Mostra? Fico confuso com os que, de uma forma ou de outra, reduzem a homossexualidade a sexo com alguém do mesmo género.

Se alguém se lembrar de dizer que afinal essa é uma natureza primitiva, não sei como combinar esse argumento com aquela história de no princípio as coisas terem sido criadas apenas com o objectivo da procriação.

Não há incompatibilidade. Primitivo quer aqui dizer sem afecto, sem paixão, justamente como mero veículo para a satisfação no cio que, quem sabe, é em alguns animais apenas instrumento eficiente da procriação.

a Natureza serve-se do prazer sexual para muito mais que apenas procriar

Não creio que objectivamente o possa afirmar com estes filmes. Como bem argumenta jms.

Não é correcto ler a Natureza com os olhos da Moral para justificar a homofobia.

Pois o erro ao destacar estes filmes no contexto da homossexualidade é o de tentar justificá-la, como se isso não fosse, em si, lesivo e aviltante. Ou é natural pois até os animais a praticam?


Desculpe comentário tão longo. Este é assunto delicado e, na verdade desagradável: quando será que ele deixa de ser assunto?

Lucas

Helena Araújo disse...

Lucas,

a ver se o entendo, e voltando ao princípio: como é que comenta a afirmação "os homossexuais estão em rota de colisão com a sua natureza biológica"?

Esteja à vontade para fazer um comentário tão extenso como lhe apetecer.

Paulo disse...

Pergunta o Lucas e eu também: quando será que ele deixa de ser assunto? Talvez quando deixar de haver pessoas como Maria Teixeira Alves. Penso que foi isso que a Helena quis dizer com este post.

Não considero lesivo, nem aviltante, o facto de a Helena ter destacado estes filmes que mostram comportamentos homossexuais no reino animal, do qual nós fazemos parte. Não se trata de justificar coisa nenhuma, mas sim de explicar a quem aponta constantemente o dedo e vem com a bandeira do contra-natura e mais todos os outros argumentos que me dispenso de enumerar, que é tão natural que existam esses comportamentos nos seres humanos como nos restantes animais. Uns escolhem um parceiro para toda a vida, outros saltitam de parceiro em parceiro, há os que procriam e depois vão brincar com indivíduos do mesmo sexo, etc.
Parece-me tudo muito óbvio e claro.

Ant.º das Neves Castanho disse...

A minha geração cresceu a ouvir um célebre anúncio quem dizia: "O QU'É NATURAL É BOM!" (dó-dó-mi-dó-mi-dó-soooool - tudo tons naturais, claro...).