24 fevereiro 2011

a 4ª revolução

"Die 4. Revolution" é o nome de um documentário que vi ontem - muito chato e um pouco manipulador, diga-se de passagem - sobre a autonomia energética.

Algumas ideias interessantes do filme e da discussão que se seguiu:

- Há grupos económicos poderosíssimos que não têm o menor interesse em abandonar o actual modelo energético que tão rentável lhes é, e que por isso não hesitam em recorrer a qualquer meio para pressionar e manipular: desde a opinião pública aos governos. Passar da produção centralizada de energia para milhentos pequenos produtores/consumidores autónomos representa para aqueles grupos uma brutal perda de negócio.
Alguns exemplos dos meios utilizados: manipulação do debate científico; o cálculo do custo da energia nuclear não leva em conta o preço da gestão dos resíduos durante milhares de anos, tornando-a artificialmente competitiva; o argumento de que que as energias renováveis não conseguem cobrir todas as necessidades, e portanto há que continuar a apostar nas tecnologias tradicionais (nota: o prazo previsto para o fim do nuclear na Alemanha foi recentemente adiado pelo actual Governo; na mesma altura, uma empresa do sul da Alemanha, que trabalhava em investigação de ponta sobre energias alternativas, meteu travões a fundo e despediu os empregados).

- Ao contrário do que se diz, é possível produzir energia alternativa em quantidades suficientes. Há cada vez mais possibilidades que não são muito caras (como instalar captação fotovoltaica nas fachadas de vidro dos edifícios) mas que por algum motivo não são levadas a cabo.

- "Nem sempre o Homem é um ser racional", dizia um amigo nosso, que tem um carro movido a gás. Ele, que já tem o carro pago só com o que poupa na diferença de preço entre gasolina e gás, não entende que as pessoas continuem a comprar carros com motores a gasolina.

- "Não me perguntem quanto me rende ou quanto me custa se isolar melhor as casas que tenho arrendadas", dizia outro amigo, que fez a opção de melhorar o isolamento térmico das casas de que é proprietário. "Ninguém me pergunta quanto ganho ao comprar uma cozinha Siemens em vez de uma IKEA. Aceita-se que, para o meu bem-estar, gaste vários milhares de euros a mais. Pois bem: para o meu bem-estar é importante saber que tenho essas casas bem aquecidas sem pagar rios de dinheiro a sabe-se lá que ditaduras do Médio Oriente. No fundo, custa-me o mesmo pagar o aquecimento ou isolá-las. Mas se as isolar crio postos de trabalho no meu país, em vez de pagar uma energia conseguida ao preço de guerras e apoio a tiranos."

No Arrumário encontrei uma pequena palestra TED sobre o que podemos aprender com a natureza para construir edifícios mais sustentáveis e eficientes do ponto de vista energético. São menos de catorze minutos, e valem todos a pena:

3 comentários:

jj.amarante disse...

A maioria das observações do post são pertinentes. Tenho as maiores dúvidas sobre a viabilidade económica das fotovoltaicas com os preços actuais. E não percebo as tarifas astronómicamente subsidiadas que estão a ser pagas a esse tipo de energia. Deveriam gastar esse dinheiro em programas de investigação nas universidades e empresas para baixar os custos de produção das células fotovoltaicas. Quanto à eólica já deve ter chegado ao break-even, se se considerassem, para efeitos de comparação, os custos militares e humanos para assegurar o acesso a boa parte das energias fósseis.

Helena Araújo disse...

jj.amarante,
os preços actuais estão a aumentar rapidamente, não acha? E vão aumentar ainda mais daqui a uma década, com as reservas de petróleo e gás a reduzir assustadoramente.

Nós estamos a pensar no que devíamos fazer na construção da nossa casa. Vai ser muito bem isolada, e vai ter uma bomba para captação de calor a partir do ar. Para isso precisa de energia eléctrica. Tem alguma ideia de como podemos produzir energia eléctrica na própria casa?
Também pensámos naqueles motores Dachs (ok, microgerador, dei o nome da empresa mais conhecida, http://www.naturalenergy.com.pt/site/index.php?option=com_content&view=article&id=15&Itemid=44) mas disseram-nos que é um disparate, porque a casa precisa de tão pouca energia para aquecer que a maquineta ia estar o tempo todo parada, ou então a produzir aquecimento que teríamos de perder.
A Vattenfall (grupo energético) está a oferecer contratos de leasing às famílias para instalarem esses microgeradores na sua casa. Em vez de pagarem os cerca de 30.000 que eles custam, pagam 6.000, e produzem energia que carregam na rede.
A desvantagem é que produzem energia a partir de combustíveis fósseis - há um processo de descentralização, mas ainda assim a base é a mesma.

jj.amarante disse...

O petróleo estará a esgotar, sobretudo se a população não ocidental do globo começar a ter acesso a uma parte mais razoável desse recurso finito. Quanto ao gás não tenho tanta certeza, nos EUA tem aumentado a exploração do "shale gas", conforme referido na Wikipédia.
Julgo que à medida que o tempo passa ocorrerá uma diminuição do tamanho economicamente interessante para se gerar energia eléctrica. Esse limiar depende bastante da regulamentação de cada país e desconheço a alemã.
Sei que o isolamento térmico é aí tomado muito a sério, não havendo portanto problema. Trabalhando num TSO sou um bocado suspeito nestas matérias mas acho que a micro-geração (nos domicílios) é actualmente mais um acto voluntarista do que uma solução economica e fisicamente sensata. As redes de distribuição não causam tantas perdas como isso e as centrais são operadas com grande eficiência, dada a sua dimensão. O rendimento dos micro-geradores dependerá da qualidade do projecto do equipamento mas também muito da manutenção.