06 dezembro 2010

mercado de Natal em Blankensee



Sábado foi dia de passeio até Blankensee, para o mercado de Natal da Johannische Kirche.
Um mercado muito diferente dos que costumamos ver. Como se bastasse andar quarenta quilómetros em direcção ao sudoeste de Berlim para voltar a um tempo mítico anterior à nossa própria infância.

Esta comunidade cristã nasceu no princípio do século XX, centrada em Joseph Weißenberg, que eles acreditam ser profeta. A princípio, as coisas correram bem: a dinâmica envolveu dezenas de milhares de pessoas que juntaram donativos em valor suficiente para construir junto a Blankensee uma colónia a todos os títulos famosa, Friedenstadt (Cidade da Paz). Nela se encontravam habitações a preços baixos e edifícios comuns para reuniões e festas, hospital, escolas e lar de terceira idade. Uma comunidade solidária, baseada na espiritualidade e em valores cristãos.
Os nazis começaram a criar problemas já em 1935. Perseguiram Joseph Weißenberg e ocuparam os edifícios, usando alguns deles como campo satélite de Sachsenhausen. No fim da guerra, foram-se os nazis, vieram os russos A igreja foi imediatamente devolvida à comunidade, com um pedido do comandante russo: "rezem também por nós". A relação com estes ocupantes foi bem mais pacífica que com os nazis. Após a reunificação, todas as propriedades foram restituídas. Hoje em dia moram lá cerca de 400 pessoas.
Na igreja optou-se por um minimalismo ecuménico: sobre o altar lê-se a frase "Deus é amor", e a comunhão é oferecida a todos os presentes, sem imposição de partilha da mesma crença.



Todos os anos, no segundo fim-de-semana de Advento, fazem um mercado de Natal. O edifício da igreja é transformado em café, sala de concertos e mercado. Ao ar livre há um stand para fazer velas, vários para venda de artesanato feito sobretudo por pessoas da comunidade, padarias e charcutarias com produtos biológicos de uma quinta que a comunidade tem na Baviera. E várias barraquinhas de comida típica alemã - carne assada com chucrute ou couve roxa, salsichas grelhadas e goulach com carne de caça. Para as crianças há uma tenda mágica onde são lidos contos (os pais gostam ainda mais que os filhos), ovelhas para tocar e acariciar, cavalos para ir dar uma voltinha.


A seguir à simplicidade, o que mais chama a atenção é o ambiente de boa disposição entre os vendedores e organizadores. Como se o mercado fosse para eles uma festa.

Estes Pais Natais, por exemplo: os miúdos pagam uma moeda, empurram uma alavanca (a mão de um deles) e os três desatam a vibrar, metem a mão no saco e tiram um fruto. Se os três têm um fruto igual, o miúdo ganha um prémio. Tão simples, e tão engraçado.







Ou este fiador de lã, que explica cheio de paciência como se faz esse trabalho, e volta e meia vai dar uma volta: dois dedos de conversa com uma mulher que está a vender aipo panado com beterraba ("a minha avó é que cozinhou a beterraba, daqui a bocadinho já lhe dá a receita"), uma piada trocada com o cozinheiro que serve o goulach de javali.



Nas traseiras de uma barraca descobrimos, fascinados, um dos segredos para o sucesso da iniciativa: uma lista de tarefas que é preciso executar, com um espaço em branco para as pessoas porem o seu nome, e pequenas tiras com a descrição da tarefa e a hora a que deve ser realizada. Por exemplo: lavar a louça do café, sábado, 13:30 - 14:00. As pessoas vêem o que é preciso fazer, inscrevem-se, e levam consigo a tira para se lembrarem.


Comprámos vinho quente - queríamos apenas duas canecas, mas a simpática da moça encheu-nos a garrafa térmica - e fomos para o Wannsee fazer a fogueirinha.

4 comentários:

António P. disse...

Gostei, Helena...só essa do vinho quente é que...:)) ainda se fosse cerveja

Helena Araújo disse...

Cerveja com seis graus negativos, António?!
Aquilo é uma mistura de sumo de laranja, especiarias e rum, ou algo do género. Muito bom, especialmente quando à nossa volta só há o branco da neve e do gelo. É o que faz este pessoal todo aguentar-se nos mercados de Natal, que são ao ar livre, mesmo nevando e com temperaturas negativas.

António P. disse...

Pensei que os alemães só bebessem cerveja e que no Inverno a aquecessem :))
Ignorante !!

Helena Araújo disse...

Eu, cerveja quente, só conheço do livro Astérix entre os Bretões.