16 novembro 2010

um conselho aos polícias portugueses


Os gajos do black bloc adoram polícias duros. É para isso que atravessam a Europa: para medir forças.
A polícia alemã, que já teve oportunidade para perceber isso ao longo de vários primeiros de Maio, mudou a táctica: deixa os manifestantes bem longe do centro dos acontecimentos - de preferência, põe-lhes o acampamento tão tão longe, que eles já chegam cansados ao local de combate, perdão, manifestação. E manda mulheres polícia bonitinhas, muito bem penteadas e arranjadas, para falar com eles.
Durante a cimeira da NATO em Estrasburgo/Baden-Baden os alemães fizeram tudo isso (e mais 15.000 polícias em Baden-Baden, diga-se de passagem) e correu tudo bem. Não sei o que é que fizeram os polícias franceses, mas do lado de lá da fronteira houve alguns problemas, como um hotel em chamas e assim. Portanto: se é para seguir exemplos, talvez valesse a pena olhar para este saber alemão, de experiência feito.

Não é que seja uma especialista em métodos policiais de repressão de manifestações - leio é muito Spiegel Online. E vi-os na televisão: em frente a um magote de malucos vestidos de preto, um grupo de mulheres polícia calmas e perfeitamente senhoras da situação. Uma delas falava para eles, de megafone, e até parecia divertida.
O que me lembra um pouco as touradas: aquela parte em que o touro sai da arena rodeado por pacatas vaquinhas.

12 comentários:

Ant.º das Neves Castanho disse...

Muito bem. PARABÉNS, HELENA!

Helena Araújo disse...

Obrigada, A.Castanho. Quem diria que ias gostar tanto deste post...
;-)

António P. disse...

Ai! Ai! Helena,
não me diga que está a sugerir que a PSP só contrate misses Portugal e então o desemprego dos machões brutos ' :))
Mas que é uma boa ideia lá isso é.
Cumprimentos

Helena Araújo disse...

Ora, António, com polícias dessas (tónicas nos aa do fim das palavras) até o António se sentia tentado a ir para o black block!
;-)

Rita Maria disse...

Agora que já nao fazes anos: sou uma grande defensora da polícia alema, mas nao concordo nem um bocadinho com essa versao cor de rosa da actuaçao deles nessas manifestaçoes. Nem com a diabolizaçao redutora dos Black Bloc (e muito menos com a narrativa de criminalizaçao do anarquismo que a polícia portuguesa está a construir passo a passo, mas dessa tu nao tens culpa).

Já a questao da violência, acho que já discutimos anteriormente ;)

Rita Maria disse...

@António P., nao é bem Misses Portugal, que essas nao aguentavam. è mais uma coisa tipo atleta da DDR, mas em gira e bem cuidada.

Helena Araújo disse...

Rita: Ai!
(não sabes que eu faço anos todos os dias?)

Quando estava a escrever este post lembrei-me da descrição que fizeste da actuação da Polícia em Berlim, e que viste de um prédio sobre essa praça: uma enorme eficiência na maneira de separar as pessoas de uma manifestação "espontânea", e muita violência na forma de tratar algumas delas.
Diria que temos ambas razão: a Polícia alemã não é tão cor-de-rosa como eu contei, mas já fez imensos progressos a nível de saber evitar a escalação da violência.
Quanto aos black bloc, confesso que sei pouco. Releio o que escrevi sobre eles, e sim, podes dizer que é redutor. Contudo, explica-me lá: como distinguir, de entre aquele pessoal vestido de preto, o trigo e o joio?
O que os move? O que leva os pacíficos a permanecer ao lado dos que deitam fogo a carros e atiram pedras aos polícias?

Rita Maria disse...

A questao é: a violência é o joio?

Ontem no Daily Show, a propósito da instalaçao dos scans que te vêm nua nos aeroportos, alguém comentava como era possível que essa medida securitária nos chocasse tanto e ir matar civis para o Iraque fosse uma discussao que tínhamos racionalmente. E, de certa forma, era verdade.

Eu sou muito menos crítica da NATO hoje do que já fui (no que teve um papel determinante ter conhecido o incrivelmente sexy, lindo e deslumbrante porta-voz internacional), mas ainda estamos a falar acima de tudo de uma organizaçao dedicada à guerra.

Face a organizaçoes desta dimensao, a decidir pacífica e educadamente a guerra ou a miséria dos países africanos e a derrocada das economias periféricas, como nas reunioes do G20, sem que ninguém sinta que pode fazer alguma coisa, tenho de pelo menos compreender a violência. É que isto nao é uma conversa da sociedade civil em que todos temos o mesmo direito a contribuir.

A violência nao é o meu caminho, mas o caminho também nao passa por comprar produtos do comércio justo, qualquer caminho terá de passar por inverter relaçoes de poder, sempre foi assim. Entre os Black Bloc e a abordagem fofinha terá de haver um caminho, mas sinto que reduzir os caminhos dos outros a "andam pela Europa à procura de polícias duros" nao ajuda muito.

Mas se calhar só me incomodou tanto porque te incluiu numa narrativa que em Portugal está a ser criada do nada com uma estrondosa eficácia.

pedro panarra disse...

Rita, os black block não querem inverter relações de poder, porque não aceitam a natureza do poder político. Para o inverter é preciso começar por compreender a sua natureza. Esse é também o problema dos federalistas. " mais Europa" e " solidariedade" é uma negação da mnatureza do poder político e da imperfeição do mundo. O problema dos europeistas ingénuois é que querem negar o mundo institunido uma forma de redenção contemporânea.
Os mercados são como a democracia: uma forma imperfeita de organização, mas ainda assim amelhor que encontrámos.
A China percebe bem a natureza do poder político. A Noruega e a Suécia também. Os federalistas europeus não.

Rita Maria disse...

Muuuuiuuuita gente diferente num saco, ainda por cima comigo dentro.

pedro panarra disse...

Helena, peço desculpa por estas intervenções selvagens que perpetram o genocídio da gramática e da ortografia, onde a pontuação e acentuação da língua portuguesa são regidas pelo acaso e pelo improviso, tal como a política portuguesa. Ainda por cima revela o instinto animalesco daqueles cães que avistando uma bicicleta negra a alta velocidade,não resistem a dar uma boa dentada. Tens razão é muita gente ao molho.É o que dá escrever em meio minuto.
Enganas-te, tu não estás dentro do saco; estás só a espreitar. Primeiro és demasiado esperta para lá entrares; segundo, há uma coisa que te salva:" és uma rapariga dos sentidos". Alguém disse isto, não fui eu.
Nenhuma ideia política se desenvolve sem um preenchimento sensível, que nunca a esgotará é certo, mas tem de existir. À ideia de Europa falta isso. Ninguém sabe como é que se pode fzer tal coisa. Talvez aconteça quando menos esperarmos.

Helena Araújo disse...

Rita,
deixa-me pôr as coisas assim: como infeliz proprietária de um Mercedes, não me dá jeito que as pessoas lutem contra a ordem actual das coisas deitando fogo ao meu carro. Também não me parece que esses gajos que atiram pedras à polícia e deitam fogo aos carros tenham sequer um projecto. Acho até que o problema deles passará por não terem projecto nenhum.

De resto, tens razão: não fui suficientemente clara sobre as pessoas de quem estava a falar. Estava a falar daqueles que vão de propósito para um acontecimento destes para ter uma boa refrega com a polícia. Não acredito que as suas motivações políticas sejam claras e baseadas num projecto construtivo para a sociedade. Penso que é sobretudo um sinal de mal-estar do nosso tempo.