23 novembro 2010

parece que o Papa disse não sei quê sobre preservativos...

E eu com isso?
Se ele quiser, pois que use. Se não quiser, pois que decida em consciência e responsabilidade.

Não entendo, garanto que não entendo, este burburinho em volta daquelas afirmações. É que me passa tão ao lado do essencial, é tão absurdamente ridículo, que até me faz impressão ver pessoas adultas a perder tempo com isto.

8 comentários:

Rita Maria disse...

Mas ó Helena, é assim tao estranho que se considere a posiçao da Igreja nestas coisas importante? Será que esta clarificaçao é assim tao pouco importante?

Eu acho que isto passo a passo sao mensagens importantes, provavelmente irrelevantes para quem conhece a prática da Igreja e dos seus fiéis, mas se calhar importantes para os que estao de fora e para o mundo.

Helena Araújo disse...

Eu acho que a posição da Igreja nestas coisas é uma insignificância. Até é ridículo que alguém do Vaticano abra a boca para falar disto.
Ninguém lhes dá ouvidos. Meteram-se por detalhes onde só tinham a perder. Mais lhes valia retroceder, voltar às origens, dizer que o mais importante é o Amor, e que cada pessoa e cada casal é que decide em consciência (e, já agora, Fé) como é que equaciona o Amor e o respeito pelo próximo nas suas relações sexuais. Pronto. Era o único passo a dar. Todo o resto é folclore. Se queres que te diga à moda do Porto: masturbação intelectual.

E acho ainda menos importante para os que estão de fora e para o mundo. Que me interessa a mim com que mão é que os muçulmanos no entretanto já podem limpar o nariz? Ou que peixe é que o Dalai Lama acha que se pode comer?

Isto é um "dai a César o que é de César" (ó pra mim a citar as fontes...) que funciona para os dois lados. Nem o Vaticano tem de se meter na sexualidade dos crentes, nem os não-crentes têm de se preocupar com esses passos em falso do Vaticano. A não ser, claro, que queiram aproveitar-se dos episódios para se rirem da desgraça alheia e desqualificar o Vaticano.

Porque estamos a falar de preservativos, note-se. Outra questão seria se o Papa falasse sobre o aborto, ou a manipulação genética, ou esse tipo de questões que mexem com toda a sociedade.

maria disse...

só tu! :)))

Helena Araújo disse...

:-D

(faz-se pela vida, não é assim?)

Rita Maria disse...

Acho que estás a fazer aquela coisa de discordar da economia discursiva contra a qual escreveste.

Do ponto de vista da comunicaçao, que é um dos "negócios" principais de qualquer Igreja, nao é de forma nenhuma irrelevante que ela seja encarada como uma entidade aberta, com a qual se pode conversar sem que se esbarre em dogmas inamovíveis.

É importante se ela quiser ter um papel activo nas discussoes em sociedade, é importante se ela quiser ser levada a sério nos tais outros assuntos fundamentais, é importante até se ela quiser ser ponto de abrigo para pessoas que precisam de ajuda ou conquistar novos fiéis, ou reconquistar as horas de católicos que nao gostam da Igreja como instituçao.

Para muitos dos seus representantes que andam há anos a explicar que a proibiçao absoluta, enfim, nao é bem assim (e nao vamos fazer de conta que a questao nao surge em cada entrevista com um alto responsável da Igreja ou, sendo generosa, nuns 80%)suponho que o facto de o seu discurso ser coerente com o que vem de cima também nao é nada irrelevante.

Pessoalmente, nao acho que a afirmaçao do Papa venha contradizer o que disse da última vez, o que talvez seja o que te incomoda, acrescida da identidade entre os detractores da altura e os responsáveis do fogo de artifício actual, mas nem por isso acho que a coisa seja menos importante.

Abre uma porta de diálogo e recalibra prioridades que as pessoas sentiam justamente como desiquilibradas. Como resultado acrescenta legitimidade à Igreja para participar num debate no qual ela quer participar, inclusive legitimidade para falar de moral e amor e de sexualidade.

Nao sei porque achas que a Igreja nao se deve meter na sexualidade dos seus crentes, eu acho que tanto moral como amor sao os seus campos de actuaçao mais naturais. Se a Igreja nao tiver nada a ver nem com a moral nem com o amor que papel é que lhe sobra, o de central logística de uma fé organizada individualmente ou em colectivos pequenos a partir de um grupo de princípios muito reduzido?

É uma perspectiva que aceito sem problemas se for ela o teu ponto de partida, mas acho que nao é o do Vaticano (e o facto de nao ser nao tem mal nenhum).

Helena Araújo disse...

Rita,
olha aqui uns rapazes que explicam isto muito melhor que eu:
http://www.publico.pt/Sociedade/comentario-o-que-ainda-falta-fazer-depois-das-palavras-do-papa-sobre-o-preservativo_1467856

Duvido que a comunicação seja um "negócio" tão importante para a Igreja. Duvido que alguém para aqueles lados esteja disposto a trocar os dogmas pela abertura.
Nem sequer precisa de ter um papel activo nas discussões em sociedade. A Igreja (o Vaticano) diz o que entende, e ponto final. Não vai a debates.
E a multidão de crentes faz o que entende, e reticências, que são eles que têm de se desenrascar com a vida real.

A "minha" Igreja é o espaço de vivência de uma fé, e não de respeito de regras de moral. Por isso, acho especialmente absurdo que entrem nos detalhes da sexualidade. A primeira versão da encíclica sobre a contracepção era muito mais sábia que esta - o que o António Marujo explica muito bem no seu artigo.
Se o Papa perde tempo a falar dos preservativos, e se nós perdemos tempo a dar eco às suas palavras, andamos todos a perder tempo em palhaçadas. Isto é um não-problema. Este lento retroceder é apenas em parte positivo. O que era preciso era focar-se no essencial. No caso, ir repescar a primeira versão, e andar para a frente.

"Se a Igreja não tiver nada a ver nem com a moral nem com o amor" é uma frase um pouco dúbia. A moral e o amor não passam por regras sobre o uso dos preservativos. Se a Igreja não tem nada a ver com o uso que as pessoas dão aos preservativos, sobra-lhe o papel da Fé, da Esperança e da Caridade. Pano para mangas.

Rita Maria disse...

É de qualquer forma uma discussao inútil, até porque nao percebo se o que achas ridículo é que o Papa se pronuncie ou que as pessoas discutam o que ele disse.

O Papa escolheu tomar uma posiçao sobre o assunto de forma consciente e estava cansado de saber a discussao que se seguiria e por isso discorro que ele quer que a Igreja tenha um papel nessa discussao, que ele parece achar relevante o suficiente.

Que tu nao aches parece-me ser o teu direito, mas chamar ridículas às pessoas que parecem querer ter com ele (e a Igreja) um diálogo que ele quis ter com elas porque tu (ou eu, que também acho que há muitas coisas muito mais relevantes do que preservativos) achas que deviam estar a falar de outra coisa parece-me um pouco abusivo.

Helena Araújo disse...

Ah, deixa-me explicar melhor: acho ridículo que o Papa precise de falar disto, acho ridículo que as pessoas discutam o que ele disse.

Por mim, ia directamente para os anais, tal como daquela vez que reconheceram que tinham sido injustos com o Galileu. No fundo, é o Vaticano a rectificar o rumo, a aproximar-se da realidade. Mas não interpreto isto como uma proposta de discussão. Ou sequer que haja um debate em curso sobre o uso de preservativos - esses problemas só existem na cabeça da Hierarquia, e mais valia que fossem pedir ajuda profissional, porque é mesmo essa a única questão central: porque é que o preservativo incomoda tanto estes indivíduos?

Agora, concretamente: dos comentários que leste/ouviste sobre esta afirmação do Papa, quais te pareceram tentativa de diálogo com a Igreja sobre o assunto? Eu só vi intervenções no domínio da tragicomédia.

Serei abusiva, e mantenho: o pessoal adora chafurdar na lama do preservativo - isso não é diálogo, é obsessão e vistas curtas. Mas quando o Papa vem falar de coisas realmente importantes, como o capitalismo, as explorações diversas dos seres humanos, a fome, etc., estranhamente ninguém se dá conta dessa sua "tentativa de diálogo", como lhe chamas.